Os tripulantes de cabine da transportadora aérea Ryanair vão fazer uma greve europeia nos dias 25 e 26 de julho.
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A decisão foi tomada numa reunião, em Bruxelas, entre vários sindicatos europeus para exigirem que a companhia de baixo custo aplique as leis nacionais e não a irlandesa, informou à agência Lusa a presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC).
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Em comunicado de imprensa, assinado pelos sindicatos SNPVAC, UILTRASPORTI/FILT - CGIL (Itália), SITCPLA (Espanha), USO (Espanha) e CNE-LBC (Bélgica), são ainda referidas as exigências para a Ryanair estender as mesmas condições laborais a trabalhadores subcontratados.
Os sindicatos também não querem a Ryanair a ditar condições sobre quais os representantes dos trabalhadores que podem participar nas reuniões.
Face à decisão de "ignorar" estas exigências, os sindicatos decidiram avançar com uma greve de 24 horas em Portugal, Itália, Espanha e Bélgica no próximo dia 25 e em Portugal, Espanha e Bélgica, no dia 26.
"Outros sindicatos de diversos países europeus apoiam ativamente esta greve, mas devido a restrições legais e procedimentos burocráticos pesados não podem, por agora, adotar uma ação industrial nos seus países, mas mais ações industriais podem seguir-se nas próximas semanas, se a Ryanair continuar com esta situação de impasse", lê-se no texto.
Os sindicatos instaram a Comissão Europeia e os governos dos países europeus, onde a Ryanair opera, para "agirem ante o 'dumping' social" praticado pela transportadora irlandesa e garantir que não é aplicada a legislação transnacional ou a irlandesa conforme a sua "conveniência".
Às autoridades de aviação solicitam maior vigilância sobre o cumprimento das leis por parte da companhia, referindo-se a importância de serem respeitadas as regras de limitação de voo e de descanso.
"Acreditamos que a Ryanair tem de ser reestruturada e incorporar, de uma vez por todas, os valores da União Europeia baseados na dignidade humana, liberdade, democracia, igualdade e respeito pela lei".
Na reunião participou a presidente do SNPVAC, Luciana Passo.
Luciana Passo referiu que decorrerá uma conferência de imprensa na Bélgica sobre a marcação desta greve a nível europeu, depois de em abril os trabalhadores baseados em Portugal terem paralisado.
As respostas da Ryanair "continuam a ser as mesmas, que é querer impor regras contrárias à lei portuguesa", criticou o dirigente sindical, acrescentando que "a Ryanair tem de respeitar a soberania portuguesa e não respeita quer a portuguesa, como a espanhola ou a belga".
Os sindicatos europeus tinham definido como prazo máximo o dia 30 de junho para que a transportadora aérea de baixo custo respondesse às reivindicações, mas mesmo nesse dia Bruno Fialho, da direção do SNPVAC, precisou à Lusa que a Ryanair continuava sem atender às exigências.
Havendo cinco países europeus a realizar a greve, será impossível haver substituição de grevistas
Questionado, nessa altura, se poderá haver substituição de trabalhadores como aconteceu na greve dos tripulantes portugueses no período da Páscoa, o sindicalista respondeu ser "impossível" essa situação.
"Havendo cinco países europeus a realizar a greve, será impossível haver substituição de grevistas, porque não podem ir buscar pessoal a mais lado nenhum", notou.
A Ryanair tem estado envolvida numa polémica desde a greve dos tripulantes de cabine de bases portuguesas por ter recorrido a trabalhadores de outras bases para minimizar o impacto da paralisação, que durou três dias, no início de abril.
As alegadas substituições ilegais levaram à intervenção da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT).
Contactada pela Lusa, a companhia aérea tem-se escusado a fazer comentários sobre o final do prazo dado pelos sindicatos.
Em entrevista à Lusa, em 11 de abril, o presidente executivo da Ryanair, Michael O'Leary, garantia que os trabalhadores da transportadora aérea em Portugal preferem continuar com contratos sob a lei irlandesa, uma vez que ganham mais e têm mais dias de licença de maternidade.
A transportadora aérea de baixo custo cancelou 1100 voos em junho devido às greves e à falta de controladores de tráfego aéreo (ATC), quando no ano anterior esse número tinha sido 41.
Em 03 de julho, Kenny Jacobs, da Ryanair, precisou, em comunicado, que "infelizmente, mais de 210.000 clientes da Ryanair viram os seus voos cancelados em junho devido a quatro fins de semana de greves e falta de pessoal da ATC na França, Reino Unido e Alemanha".
Há dois dias foi também foi divulgado que um grupo de pilotos da Ryanair aprovou, na Irlanda, uma greve de 24 horas para 12 de julho, devido à falta de progressos nas negociações com a companhia aérea sobre as suas condições de trabalho.