ANIL acusa hipermercados de venderam por valores baixos para captar clientes. APED rejeita responsabilidades nas políticas comerciais.
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Sobem a eletricidade, os combustíveis e as matérias-primas. No supermercado, o preço do leite não se mexe. Os produtores reclamam aumentos. A indústria acusa a distribuição de esmagar preços. Esta, por seu lado, diz que "tem promovido o consumo" e, de "políticas comerciais", não fala. Todos reconhecem que são precisas "medidas urgentes" e a guerra na Ucrânia só veio piorar um cenário que já não era bom.
"Vivemos uma política de esmagamento de preços. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) é negativo há muito tempo, ao contrário do IPC dos produtos alimentares [ver infografia]. Face ao aumento brutal dos fatores de produção, fizemos tentativas de acomodar parte dessa subida, mas houve uma resistência brutal da distribuição", afirmou, ao JN, a diretora-geral da ANIL (Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios), Maria Cândida Marramaque.
Esta semana, há leite UHT meio gordo a 50 cêntimos nos hipermercados. Na vizinha Espanha, a média são 67. Maria Cândida lamenta que o leite continue a ser usado pela distribuição como "isco" para atrair clientes: "Como é que é possível pagarmos o leite a quase 36 cêntimos/litro, termos 10 cêntimos no cartão e haver leite nos hipermercados a 50 cêntimos?", questiona. O "truque" é não ganhar no leite, mas aumentar as margens de lucro noutros produtos. O consumidor vai no engodo.
"Este caminho levará à ruína de muitas empresas", assinala. Só de dezembro para janeiro, a indústria subiu mais de dois cêntimos o preço à produção e "só não vai mais longe, porque a distribuição não acompanha", acusa.
Ainda assim, Maria Cândida recusa a intervenção direta do Estado. Os mecanismos, nomeadamente de fiscalização, diz, "já existem". Há que os fazer cumprir, estancar a inflação e ajudar a indústria, como se fez noutros setores: "Porque é que, com a subida dos combustíveis, há ajudas para transportadoras e táxis e não há para a indústria?".
O setor é organizado, Portugal é autossufiente em leite e até na inovação - uma das críticas do relatório da Subcomissão do Leite - tem havido progressos. Os diferentes tipos de leite (biológico, sem lactose, de pastagem) e as embalagens de rosca são apenas dois exemplos. A ANIL pede "vontade" e "solidariedade" à distribuição.
Promover o consumo
"A distribuição tem promovido o consumo do leite e dos seus produtos, dando o seu contributo para a valorização desta fileira", garante o diretor-geral da APED (Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição).
Gonçalo Lobo Xavier diz que "o "desafio" de valorizar e proteger a produção nacional "é de toda a fileira" e rejeita responsabilidades nas "políticas comerciais" dos associados: "a APED não se envolve, nem o poderia fazer". A distribuição pede "medidas urgentes a nível nacional e europeu para proteger toda a cadeia de valor".