Os produtores de leite acusam a distribuição de estar a baixar os preços à custa da produção. Uma semana depois da entrada em vigor do "IVA zero", Lactogal e Parmalat anunciaram descidas de 5 cêntimos por litro no preço pago ao produtor.
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Agricultores criticam as "injustiças", temem falta de alimento devido à seca e avisam que novas descidas podem levar ao fecho de explorações. Portugal é, ainda assim, agora, o 10.º na lista dos que melhor pagam à produção na Europa dos 27.
"Nos supermercados, há descidas superiores ao IVA, nomeadamente no leite e nos iogurtes, mas descem os preços à nossa custa!", atira, revoltado Carlos Neves, o secretário-geral da Aprolep - Associação dos Produtores de Leite de Portugal.
No continente, o preço do leite está, agora, nos 56,9 cêntimos/litro. A partir de 1 de maio, passará para os 51,9 cêntimos/litro. As ajudas, lembra Carlos Neves, "ainda não chegaram" e, mesmo que venham, "serão de 1 cêntimo por litro".
Em 2022, queixa-se ainda, os produtores nacionais foram os últimos a ver subir o preço e o setor cooperativo foi, "curiosamente, o mais renitente em subir" e "sempre abaixo" de cadeias privadas como o Pingo Doce.
"Os produtores tinham, agora, a expectativa que a maior empresa de laticínios em Portugal [a Lactogal] , que pertence às cooperativas, tivesse agora vontade e capacidade para liderar pelo exemplo e aguentar o preço, de modo a corrigir as injustiças dos últimos meses", frisa, dando voz à "desilusão" do setor, que teme, sobretudo, "que as descidas não fiquem por aqui".
Quem produz diz que, este ano, a colheita de forragens está a ser "substancialmente inferior aos anos anteriores, devido ao excesso de chuva no outono e à seca". Espanha, a braços com o mesmo problema, já está a travar a saída de forragens e a subir preços. A situação, somada a novas baixas de preços, alerta o secretário-geral da Aprolep, "pode levar os produtores a enviar animais para abate, reduzindo ou encerrando a sua produção".
Na Europa, Portugal é agora o 10.º país na lista dos que mais pagam pelo leite à produção. O valor, de 54,13 cêntimos (considerando o continente e os Açores) - está, agora acima da média europeia (51,76 cêntimos) e, mesmo com a descida de maio, não deverá ficar abaixo. O país foi, durante muitos anos e até setembro de 2022, o pior dos 27.