Se há indústria que se pode gabar de ter sobrevivido à crise antes de ela atingir Portugal com força é o têxtil e vestuário.
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Passou graves dificuldades no início do milénio mas, quando a crise das dívidas soberanas se refletiu em Portugal, em 2009, já finalizava um processo de transformação que aposta na qualidade dos produtos e na melhor compensação da mão de obra.
Os agentes do setor - Associação Têxtil de Portugal (ATP), Sindicato Têxtil e trabalhadores - reconhecem que há muito a fazer. Contudo, convergem na opinião de que a maioria das empresas já não paga o salário mínimo e, quando o faz, premeia o trabalhador com prémios de assiduidade, que fazem com que o valor médio mensal esteja acima dos 530 euros.
Francisco Vieira, coordenador do Sindicato Têxtil do Minho e Trás-os-Montes, adianta que "há uma tendência de afastamento" do salário mínimo, embora os valores continuem "muito aquém" do que seria exigível, sobretudo tendo em conta que o setor vive um bom momento. O coordenador explica que a mudança de paradigma também se deve à falta de trabalhadores experientes, como costureiras e brunideiras. As que há, sabendo da carência do mercado, "negoceiam com os patrões a melhoria dos salários" e estes veem-se obrigados a atender às exigências. O salário médio situa-se, atualmente "entre 550 a 600 euros", estima.
Nestes valores, o sindicato não coincide com a ATP. O diretor-geral, Paulo Vaz, adianta que "o salário médio é de 650 ou 700 euros por mês, mais subsídio de alimentação". O setor até deveria pagar mais, admite, mas os aumentos têm de ser feitos "de forma gradual". Paulo Vaz partilha da opinião sindical de que "a procura de trabalhadores é maior do que a oferta", em alguns setores: "São necessários engenheiros têxteis, capazes de organizar o fluxo produtivo, aumentar a eficiência da cadeia de produção; chefias intermédias que organizem turnos, linhas, que conheçam os processos e as máquinas; e costureiras, cada vez mais difíceis de encontrar, a ponto de as empresas estarem a subcontratar confeção em Marrocos e na Tunísia".
A procura de trabalhadores com experiência e, muitas vezes, com curso superior, faz com que a sua remuneração também tenha de ser maior e isso eleve o salário médio. Ao mesmo tempo, o setor quer mostrar que desenvolve produtos de qualidade feitos por gente melhor remunerada, como forma de combater a concorrência de países orientais.
Foram estes concorrentes que estiveram na origem da crise do início do milénio e foi graças a eles que a indústria se renovou. Nenhum dos atores esconde que, pelo caminho, houve fechos e despedimentos, mas todos são unânimes a assegurar que o setor saiu fortalecido.