José Ferreira admite que sem a ajuda financeira dos sogros, não sabe o que faria
José Maria Ferreira trabalha há 36 anos numa cutelaria de Guimarães, mas o salário não chega para todas as despesas.
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Depois de 36 anos a trabalhar na mesma cutelaria, José Maria Ferreira recebe pouco mais do que o salário mínimo. É afinador da máquina de polimento automático por onde passam os talheres com que comemos à mesa. Mas, para que a sua família possa comer, precisa da ajuda dos sogros com quem mora.
Foi aos 12 anos que José Maria entrou pela primeira vez na fábrica de cutelarias de Sande São Martinho, em Guimarães. Levou-o o pai, José Maria Melro, já falecido, que também lá trabalhava há mais de 20. "Naquela altura era bem pago, agora não. Na nossa fábrica, se não fosse o salário mínimo nacional ter subido, nós estávamos na miséria, mas é o setor todo assim mal pago", confessa. Noutros tempos, o dinheiro das horas extraordinárias deu-lhe para comprar uma bicicleta e, depois, um carro. Agora nem dá para arranjar o que tem. "Ganho 730 euros e pago 320 do crédito da habitação, veja lá o que sobra", revela.
Para compensar a falta de rendimentos, faz biscates de pintura e vende artigos usados
A mulher, doente, toma 12 comprimidos por dia e deixa "no mínimo 150 euros por mês na farmácia". Há ainda os dois filhos, ela de 25 e ele de 13, que dependem dos pais. "Se não fossem os meus sogros, não sei o que faria", admite.
Entre a ajuda e biscates
Na casa de José Maria, os sogros pagam as contas da água, luz e gás. O resto é dividido por todos. " Um compra uma coisa, outro compra outra, e vamos andando assim", adianta.
Para compensar a escassez de rendimentos do vencimento a tempo inteiro, o vimaranense socorre-se de biscates que consegue arranjar na pintura e pichelaria. Também vende artigos usados online e nas feiras, para além de cultivar um talhão da horta comunitária de Guimarães que lhe vai pondo alguma comida na mesa. Não é muito, mas ajuda. "No supermercado, a nível de hortaliças, é um balúrdio. Quando vou com a minha mulher, bem vejo o que se paga por um pé de penca ou por um quilo de cenouras", compara.
José Maria recorda-se apenas de uma época em que a inflação foi tão alta: a transição do escudo para o euro. Na altura, "foi um descalabro e agora está outra vez", critica, apelando a que os salários aumentem para compensar o efeito inflacionista. É que "hoje não dá para juntar dinheiro". "Para andar com a cabeça levantada, sem dever nada a ninguém, é muito complicado de gerir as contas", atesta.