Armanda Resende é funcionária numa escola da Maia, tem dois filhos e um marido incapacitado. Cada cêntimo conta.
Corpo do artigo
15134780
"Quando vem um menino que me diz que estou muito bonita, posso estar em baixo, mas já ganhei o dia". A frase de Armanda Resende, funcionária da EB1/JI de Currais, na Maia, desvenda parte da paixão que a assistente operacional nutre pelas crianças de quem cuida todos os dias. Com 49 anos, dois filhos adultos em casa e o marido indisponível para o trabalho devido a doença, Armanda é o pilar da família, mas só recebe o salário mínimo.
Há seis anos, deixou a IPSS onde trabalhava com crianças para abraçar um lugar de quadro em carreira na função pública. "Tentei a minha sorte, porque pensei que ia ser muito melhor. Foi melhor, mas pouco", admite, enquanto descreve o recibo de vencimento que lhe dá 690 euros líquidos por mês. Com um salário tão baixo, sente muito o aumento dos preços e é na alimentação que a inflação mais pesa. "Por exemplo, ontem, fui à frutaria e estava lá uma couve-lombarda que no outro dia estava a 50 cêntimos e agora já estava a 1,30 euros", revela.
Recebe 690 euros, vive com dois filhos que estudam e o marido doente não trabalha
Num orçamento familiar onde cada cêntimo conta, Armanda teve de recorrer a outras tarefas para aumentar o rendimento: "Faço umas pinturas faciais de que gosto muito, mas são cinco euros por criança e estes produtos são muito caros. Também faço uma feira onde vendo roupa usada, minha e da minha filha, e uma coleção de vinis do meu marido, que se vai vendendo bem".
Do carinho à mágoa
Sempre que fala das crianças, a voz de Armanda ganha ternura: "Gosto de crianças, elas é que me dão alento". Mas este carinho contrasta com a mágoa que sente quando ouve que os funcionários públicos são preguiçosos: "As pessoas não têm ideia. Nós fazemos de tudo, desde brincar com as crianças a arrumar e a limpar. Só não fazemos o almoço". Por isso, admite que também tem momentos de maior fragilidade: "Às vezes, também me vou abaixo, mas penso "Armanda, não pode ser. A vida é para cima e tens de ser forte para te levantares"".
Na tabela salarial, apesar da formação em auxiliar de ação educativa, Armanda não é diferente das colegas que não a têm. "Não houve progressão suficiente e a subida do salário mínimo apanhou todas. Tenho colegas que estavam lá há muitos anos e eu entrei a ganhar o mesmo, mas não tenho culpa".