É preciso recuar a outubro de 2007 para encontrar um valor acima dos 1795 milhões emprestados. Taxa de variação do preço das casas é maior no Interior.
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O volume de empréstimos concedidos a particulares para compra ou reabilitação de casas atingiu, em março, o valor mais alto dos últimos 15 anos e meio. Os dados do Banco de Portugal mostram que o montante de créditos à habitação concedidos a particulares foi de 1795 milhões de euros, só comparáveis aos 1875 milhões de euros emprestados em outubro de 2007. Na base deste aumento está a valorização das casas que deixou de ser exclusiva das grandes cidades e atinge com força o Interior. Hoje, o Parlamento debate o sistema bancário, o crédito à habitação e os "lesados da banca" a pedido do Chega.
O montante concedido em créditos está a aumentar, apesar da subida das taxas de juro. Os 1795 milhões de euros concedidos em crédito à habitação em março tiveram uma taxa de juro média de 3,86%. Embora pareça muito face aos valores negativos do ano passado, a taxa era mais alta em outubro de 2007, pois estava nos 5,23%.
Dos novos empréstimos de março deste ano, 88% destinaram-se à compra de habitação própria permanente. Houve ainda 4,9% que pediram empréstimo para habitação secundária e 7,1% para realizar obras na casa.
Os portugueses ainda preferem contrair crédito a taxa variável, mas os outros tipos de taxas de juro, a fixa e a mista, estão a ganhar terreno. Em março, do total de novos créditos à habitação concedidos a particulares, 8% foram de taxa fixa e 15,9% de taxa mista. São valores mais altos do que os existentes no stock de créditos: 4,4% com taxa fixa e 7,7% com mista.
Tal como acontece com o aumento da receita de IMT, a escalada do montante de créditos concedidos também é justificada com o aumento do preço das casas.
Interior inflaciona
Em Portugal, segundo dados do INE, o valor mediano do m2 das casas vendidas aumentou 14,4% entre dezembro de 2021 e dezembro do ano passado, passando de 1297 euros por m2 para 1484 euros por m2.
O JN calculou a taxa por concelhos, com base nos dados do INE, e conclui-se que é nos territórios do Interior que a variação do preço das casas é maior, em proporção. O concelho de Trancoso lidera a lista, com um aumento de 70%, de 203 euros por m2 para 345 euros por m2. Em Lisboa o aumento foi de 341 euros (9,7%), mas o metro quadrado está a ser vendido em média a 3872 euros. O impacto da subida do preço das casas num território mede-se pela taxa de variação e, assim, quem lidera é Trancoso, seguido de Mogadouro (mais 59%) e Alandroal (57%).
Ao JN, o presidente da Câmara Municipal de Mogadouro, António Pimentel, confirmou que "há pressão" imobiliária: "os apartamentos constroem-se e vendem-se logo em planta", maioritariamente para jovens que se estão a fixar no concelho. O município tem em curso vários investimentos para aumentar a oferta: 32 casas recentes de habitação social já construídas, 38 em construção ao abrigo do 1.º Direito, mais 40 na futura revisão do 1.º Direito e mais dois lotes de 12 casas previstas. Mogadouro é dos concelhos mais adiantados do programa 1.º Direito.
2022
Vistos gold valeram apenas 1,6% do mercado
O regime de Autorização de Residência para Atividade de Investimento, conhecido como vistos gold, representou apenas 1,6% do valor total de investimentos imobiliários, comerciais ou residenciais, no ano passado. Ao todo, foram transacionados imóveis no valor de 31 800 milhões de euros, segundo dados do INE, mas o valor resultante de vistos gold para fins imobiliários foi de apenas 535 milhões de euros, contabiliza o SEF. Se a análise se fizer pelo número de casas compradas, os vistos gold imobiliários são responsáveis por cerca de mil compras, num total de 168 mil, o que dá 0,6%. Recorde-se que, no âmbito do pacote Mais Habitação, o Governo acabou com os vistos gold para fins imobiliários.