Ricardo Salgado conseguiu, com a ajuda de Henrique Granadeiro e Zeinal Bava, que telefónica investisse 897 milhões de euros quando GES já estava no fim da linha.
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Depois da Tranquilidade, a Portugal Telecom (PT). Aquele que foi o principal operador de telecomunicações de Portugal investiu, de 2001 a 2013, entre 366 e 2851 milhões de euros por ano em depósitos e em obrigações do Banco Espírito Santo (BES) e da Espírito Santo International (ESI). E em fevereiro de 2014, quando o Grupo Espírito Santo (GES) estava prestes a desabar, reinvestiu 897 milhões num negócio ruinoso que ditaria o seu fim.
Para conseguir que o Grupo PT se transformasse numa das principais fontes de liquidez do GES, Ricardo Salgado contou com a colaboração prestimosa de Henrique Granadeiro, Zeinal Bava e Miguel Horta e Costa, todos altos responsáveis da PT.
Quem o diz é o Ministério Público (MP), na acusação que pretende levar 25 dirigentes e empresas do GES a julgamento por crimes como associação criminosa, corrupção no setor privado burla, branqueamento de capitais e manipulação de mercado. Nesse documento, nove procuradores defendem que um acordo de "parceria estratégica" formalizado em 2000 fez com que o BES alcançasse uma participação de 10,5% no capital social da PT, o que lhe permitiu nomear dois membros para o conselho de administração do ex-operador de telecomunicações. Os escolhidos foram Amílcar Morais Pires, braço-direito de Salgado e agora acusado de 18 crimes, e Joaquim Goes.
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Acordo ao almoço
Pires e Goes, com o auxílio da influência de Salgado junto de Granadeiro e Bava, conseguiram que a PT pagasse, em 13 anos, 864 milhões de euros por serviços prestados pelo Grupo do BES. Mas a verdadeira empreitada foi convencer os responsáveis da PT a comprar papel comercial das empresas do GES. No final de 2013, a telefónica tinha 750 milhões de euros investidos em obrigações da ESI e 91% do total da sua tesouraria colocado em produtos financeiros do universo GES.
Esta autêntica fortuna não se revelou, no entanto, suficiente para tapar o buraco financeiro que, no início de 2014, começou a revelar-se. Segundo o MP, Salgado, que já sabia que a ESI estava falida e não tinha dinheiro para reembolsar a PT dos investimentos feitos, apelou a Granadeiro e Bava para que transferissem o dinheiro aplicado nesta empresa para obrigações da Rioforte, controlada pelo GES.
Mesmo com falsa informação financeira transmitida por Ricardo Salgado, Pires e Isabel Almeida, à data diretora financeira do BES, os administradores do Grupo PT não tiveram dúvidas em ceder, durante um almoço, aos desejos de Ricardo Salgado. E não só renovaram o investimento de 750 milhões de euros como ainda aplicaram mais 147 milhões, fazendo com que a dívida do GES à PT atingisse os 897 milhões de euros.
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Buraco financeiro leva à queda de símbolo português
A decisão de reinvestir, em março de 2014, 750 milhões de euros em papel comercial da ESI e de reforçar em 147 milhões a posição no GES foi o princípio do fim do Grupo PT. Com a derrocada da ESI e da Rioforte, ambas controladas por Ricardo Salgado, a PT, uma das maiores empresas portuguesas e símbolo do dinamismo empresarial nacional nos mercados internacionais, acumulou um prejuízo de 897 milhões de euros numa altura em que estava a ser preparada a fusão com a brasileira Oi.
Mal tiveram conhecimento que a PT não ia receber os milhões investidos no GES, os administradores da Oi alegaram que nunca foram informados desse negócio ruinoso e forçaram a renegociação do memorando de entendimento que já havia sido formalizado. As alterações impostas pelos brasileiros obrigaram os portugueses a incorporar os ativos tóxicos e a diminuir a participação no capital social da Oi, que passava a ser dona e senhora da PT.
Com os portugueses longe do controlo da PT, o operador de telecomunicações seria vendido, em junho de 2015, à francesa Altice, dona da MEO. O negócio envolveu 5,7 mil milhões de euros, dos quais 4,9 mil milhões foram recebidos em caixa e 869 milhões foram destinados, de imediato, ao pagamento de dívidas. No meio deste processo, nasceu a Pharol SGPS, que substituiu a PT no capital social da Oi.
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Defesa culpa resolução
Para a defesa de Ricardo Salgado, a acusação do MP "falsifica a história" do BES. Alega ainda que após a "desastrosa" decisão de resolução o ex-banqueiro "sempre soube" que "os pecados" da medida seriam "expiados" em si.
Defesa até ao fim
Os advogados de Ricardo Salgado prometem que este defender-se-á "até às últimas consequências" por respeito a si aos que fizeram nascer e crescer o BES.
Coima confirmada
Esta quinta-feira, o Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão confirmou uma coima de 75 mil euros aplicada a Ricardo Salgado.
3000 clientes do BES e de outros bancos ligados ao GES não foram reembolsados dos investimentos em papel comercial. Mais de mil anunciaram, anteontem, que vão avançar com ações cíveis
11 800 milhões de euros é o valor calculado pelo Ministério Público do prejuízo no universo do GES causado pelo esquema fraudulento. Muito do dinheiro acabou nos bolsos dos arguidos.
25 arguidos estão acusados de crimes como burla e branqueamento de capitais. Salgado, Pires, Isabel Almeida e Francisco Machado da Cruz respondem também por associação criminosa