A inflação mundial de produtos alimentares, aliada ao aumento do custo da energia e da disrupção da cadeia de transportes internacionais, vai-se refletir na mesa de Natal. Alguns produtos alimentares, como derivados de trigo, óleo ou cereais, já estão mais caros e o preço vai continuar a subir, pelo menos até março de 2022. As prateleiras não vão ficar vazias, mas a reposição vai ser mais difícil.
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A Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri) vê com "extrema apreensão" o futuro do setor agrícola nacional em resultado "dos aumentos sucessivos dos preços dos fatores de produção, seja o gasóleo, as rações ou os adubos, fertilizantes e fitofármacos". A confederação alerta para o perigo de "uma possível escassez de bens alimentares nacionais nas prateleiras como consequência do abandono da produção por parte de muitos produtores".
Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), é menos pessimista: "Não está em causa a ceia de Natal. Não direi que teremos prateleiras vazias, mas a capacidade de reposição de produtos que são muito apetecíveis nesta época de Natal vai ser mais complicada".
Atualmente, há uma "pressão enorme" que resulta "do aumento do preço dos combustíveis fósseis e da energia" que "vai ter consequências nos preços dos produtos", assinala o diretor da APED.
Atrasos na distribuição
A inflação acontece, pois Portugal não é autossuficiente e depende do exterior para comer. Com o aumento do custo dos transportes decorrente da "crise dos contentores", os produtos com maior tendência inflacionária são os que vêm de geografias distantes, como a cebola e o alho chineses. Para além disso, as empresas de distribuição estão a ter atrasos "na ordem de meses no recebimento dos contentores que vêm da Ásia", acrescenta Gonçalo Lobo Xavier, que sublinha que há "uma pressão muito grande" sobre os produtos de origem asiática.
Depois, há o aumento dos preços mundiais, que, em outubro, atingiram o máximo dos últimos dez anos, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. De setembro para outubro, os cereais subiram 3,2% impulsionados pela inflação de 5% do trigo. No mesmo período, o preço do óleo vegetal aumentou 9,6% devido à escassez do óleo de palma por falta de mão de obra na Malásia.
Bacalhau e azeite estáveis
Quanto aos indispensáveis azeite e bacalhau da ceia de Natal, a APED acha "pouco provável" que haja inflações, porque a maioria dos retalhistas já se abasteceu. O preço do bacalhau subiu cerca de 15% em meados deste ano e mantém-se relativamente estável desde então. No azeite, a inflação é dirimida pela produção nacional e espanhola.