O PEC III é só o último corte aos benefícios dados na área social e do emprego. Sobretudo nos dois últimos anos, o país assistiu à sucessiva criação (em resposta à crise) e eliminação (em resposta ao défice) de medidas de apoio à família e ao emprego. O resultado tem sido "menos Estado e pior Estado", diz Ana Paula Marques, docente na Universidade do Minho.
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O mais recente corte atingiu os desempregados, que não só perderam o prolongamento por meio ano do subsídio social (dado a famílias muito pobres), criado no âmbito do combate à crise, como passaram a ter que aceitar empregos com salário inferior ao subsídio. Também mudou o conceito de agregado familiar. Agora, é tido em conta o rendimento de mais pessoas, bem como a posse de bens e de dinheiro no banco, originando nova redução de prestações.
Mas não só: parte das ajudas à manutenção do emprego criadas no início de 2009 para estimular a economia foram retiradas, para baixar a factura, calculada em 580 milhões de euros. Ficaram em vigor, por exemplo, a compensação às empresas pelo aumento do salário mínimo para 475 euros, os apoios à contratação de jovens e desempregados ou os estágios profissionais.
Tudo isto nos últimos dois anos, mas já antes a política social do Governo tinha sido pautada por algumas grandes medidas: o reforço da rede de lares de terceira idade e de creches foram duas das tónicas principais de Vieira da Silva, quando tinha a pasta do Trabalho e da Solidariedade Social. Tal como o Complemento Solidário de Idosos, que eleva a 300 euros seu o rendimento mensal.
Os investimentos foram, em parte, financiados pelos frutos do combate à fraude e evasão, com a ajuda da reforma do sistema de pensões, de longe a maior despesa da Segurança Social. Com a mudança das regras - no que é, discutivelmente, apelidado de a única verdadeira reforma de Sócrates - as futuras pensões de reforma serão mais baixas do que seriam se nada mudasse.