Ricardo Salgado recusou pedir desculpas ou assumir culpas. "Pedir desculpa é pior do que não ter razão", disse, invocando Pessoa. Prometeu batalha nos tribunais e comprometeu Carlos Costa, Bava e Granadeiro.
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"Certamente cometi erros, não tenho nenhum problema em os assumir." Mas a verdade é que Ricardo Salgado passou toda a audição na Comissão Parlamentar de inquérito ao caso BES/GES a contornar as perguntas e a evitar respostas concretas, o que levou o presidente, Fernando Negrão, a apelar por duas vezes a "menos enquadramento" e "respostas mais diretas".
Logo na intervenção inicial - um texto de 56 páginas, que leu durante uma hora - Salgado deixou claro que a sua estratégia era, uma vez mais, atacar o governador do Banco de Portugal (BdP). E fê-lo tentando descredibilizar os resultados da auditoria forense que apontam para gestão danosa, muitas desobediências ao regulador e desvio de dinheiro em proveito próprio e de outros administradores.
"É verdadeiramente inadmissível que uma parte interessada, que é o BdP, ande a divulgar, gota a gota, através da Imprensa, elementos para que haja uma pré-decisão e um julgamento, sem que este se possa efetivamente concretizar", disse, dizendo-se vítima de um "julgamento prévio e sumário".
"O que se pretendeu passar com a divulgação da primeira parte da auditoria foi claro: desobedeci 21 vezes ao BdP e causei a destruição do BES", disse, insurgindo-se contra as "potenciais desobediências" apontadas na auditoria, que lembrou estarem "por provar". Revelou ter apresentado um incidente de suspeição contra Carlos Costa, "por manifesta falta de isenção".
Razão nos tribunais
"Estou aqui a defender a minha razão. E a melhor forma de defender os interesses dos acionistas e clientes do banco é provar que tenho razão. Essa razão espero vir a obter, quando for, naturalmente, julgado nos tribunais", disse. "Não vou dizer que não tenho nada a ver com nada. Seguramente não terei tudo a ver com tudo como tantas vezes tem sido surgido na Opinião Pública", afirmou, admitindo que os anos que lhe restam serão passados na justiça. "Só quero lutar pela minha honra e da minha família".
Referindo-se às reuniões que teve com o Governo e com o presidente da República, garante que não foi pedir "qualquer favor", apenas "apoio institucional" e tempo para recapitalizar o grupo. "Senti que era meu dever advertir as autoridades, atempadamente, para o risco sistémico que poderia advir. Infelizmente, não estava enganado", disse, repetindo que avisou "três vezes" o governador para os perigos do risco sistémico.
Salgado insistiu que não foi a descoberta do buraco na ESI, a holding de topo do GES, em novembro de 2013 - pelo qual voltou a não assumir responsabilidades, atribuindo culpas ao contabilista - que levou o BES à falência. "O que levou à queda do BES foi a volatilidade das ações e a fuga de depósitos", disse. E voltou a repetir: "O BES não faliu, o BES foi forçado a desaparecer".
Salgado garantiu que "o dinheiro não desapareceu", nem foi "para os bolsos da família. "Basta ver com atenção as contas do BES do 1.º semestre de 2014 e as contas do Novo Banco para concluir que não houve desvio de dinheiro". E sobre a aplicação de 800 milhões de euros da PT na Rioforte garantiu que Granadeiro e Zeinal Bava sabiam do investimento.