As cerca de 80 empresas de pirotecnia do país reclamam "estado de calamidade económica" para o setor, com "zero contratos".
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Com as festas e romarias populares suspensas - só a Figueira da Foz vai ter um espetáculo pirotécnico no S. João - e a incerteza face à passagem de ano, há 12 mil postos de trabalho em risco.
Reunidas na sexta-feira, as três associações do setor querem sensibilizar o Governo para a necessidade de "medidas de apoio específicas" para uma industria que, devido à pandemia, vai estar "parada um ano inteiro".
"O setor está totalmente paralisado. Temos receio de que não sobreviva a esta crise", disse ao JN Carlos Macedo. O presidente da Associação Portuguesa dos Industriais de Pirotecnia e Explosivos (APIPE) descreve um cenário de "zero contratos" até ao final de 2020, que deixa na penúria "12 mil operadores pirotécnicos credenciados pela Polícia e milhares de famílias".
incógnita do réveillon
O setor começou por perder a Páscoa, "que costuma ser uma das festividades de maior peso na faturação", e não vai fazer as romarias de verão até setembro. Quanto à passagem do ano, continua a ser uma incógnita.
Por esta altura, o setor deveria estar a entrar na "fase de mais trabalho", mas devido à pandemia e às recomendações da Direção-Geral da Saúde (DGS), as câmaras não arriscaram festejar os santos populares com fogo de artifício, ainda que alguns empresários tenham proposto espetáculos "pensados" para serem assistidos à distância.
A exceção é Figueira da Foz. Um espetáculo pirotécnico com cinco minutos de duração, a partir de seis praias, vai assinalar a noite de S. João. A Pirotecnia Minhota, de Ponte de Lima, será responsável pelo lançamento de fogo de artificio.
O empresário David Costa afirma que propôs aquele tipo de espetáculo, concebido para ser apreciado à distância, a várias autarquias do país, incluindo Porto e Gaia, mas apenas a da Figueira da Foz lhe abriu a porta.
"Tanto quanto sei, é único fogo de artifício de S. João no país. A ideia da Figueira da Foz é fazer nas seis praias de maneira a que as pessoas que estejam nos hotéis e em casa possam ver e não se criem grandes aglomerados", explicou ao JN.
"Se for feito de forma coerente e pensado, o fogo de artificio pode ser um espetáculo de desconfinamento", defende o empresário, que, na noite de terça-feira para quarta-feira, a iluminará os céus das praias de Leirosa, Costa de Lavos, Cova Gaia, Claridade, Buarcos e Quiaios.
Empresa centenária só com um contrato
A Pirotecnia Minhota, empresa centenária de Ponte de Lima, costumava assegurar os fogos de grandes festas, como o S. João do Porto e Romaria d"Agonia em Viana do Castelo. O empresário David Costa afirma que o contrato conseguido com a Figueira da Foz "é uma gota no oceano de uma empresa com uma faturação de dois milhões de euros por ano". "Se chegarmos ao final do ano com 100 mil euros será muito bom", disse, apelando a que os municípios contratem espetáculos que "possam ser apreciados a grande distância".