A dificuldade em ter acesso a informação crucial para a atividade de auditoria, a não existência de contas consolidadas da Espírito Santo International (ESI), que o BES financiava, e a acumulação de poder por parte de Ricardo Salgado dentro do banco foram as três razões apontadas para que a PricewaterhouseCoopers (PwC) tenha decidido deixar as funções de auditora do banco, a 1 de janeiro de 2012, após quase 10 anos nessa função.
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"2001 foi um ano muito difícil. Houve imensas tensões entre os vários lados para fazer o nosso trabalho. Tinha havido uma deterioração significativa na relação com o banco e no desenvolvimento do trabalho da auditoria", disse, esta terça-feira, José Pereira Alves, presidente da PwC, na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES/GES. O responsável disse que ao longo dos anos se foram acumulando "fricções" e que a relação com o banco entrou em "desgaste".
"O facto de o dr. Ricardo Salgado desempenhar em conjunto três papéis relevantes, a saber, CEO, responsável financeiro e responsável pela contabilidade, deixava-nos crescentemente desconfortáveis, pelo que entendemos que existiam riscos adicionais relacionados com esta realidade", disse, logo na intervenção inicial. Mariana Mortágua perguntou-lhe se não confiavam nas práticas de gestão. "Não posso corroborar isso. Deixámos de auditar o grupo pelo risco associado à forma como o banco era gerido em termos de concentração e à não existência de informação ao nível da holding", disse.
Os deputados confrontaram o responsável com um relatório de auditoria às contas de 2001 em que a Price alertou, assinalando com ênfases, para a concessão de crédito a entidades não residentes, cujos ativos eram maioritariamente ações do BES, o que os levou a suspeitar que seriam investimentos do próprio banco. O responsável garantiu que a PwC teve então reuniões com o Banco de Portugal e com a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários alertando-os para essa situação. Mas foi-lhes respondido que "não tinham informações que os levassem a pensar que se estava perante investimentos do próprio banco e não genuinamente empréstimos", pelo que a solução foi aprovar as contas com reservas. O responsável garante que a auditora que lhe sucedeu no BES, a KPMG, foi alertada para estes problemas, pelo que não pode dizer que os desconhecia.
O responsável da PWC foi ainda questionado sobre a auditoria que lhe foi encomendada pela Portugal Telecom, no final do ano 2014, sobre as aplicações feitas no GES/BES. Duarte Marques, do PSD, perguntou-lhe se era possível que Zeinal Bava e Henrique Granadeiro não soubessem desses investimentos da PT, mas José Alves remeteu para a auditoria. Disse ainda que, a pedido da PT, foi retirada do documento "uma análise em que eram referenciadas as responsabilidade individuais dos órgãos sociais", mas garante que "o relatório tem toda a informação" para analisar o que se passou.