A nova realidade imposta pela covid-19 teve efeitos devastadores nas vendas de automóveis novos em Portugal, a exemplo do que aconteceu no resto da Europa.
Corpo do artigo
Nos primeiros sete meses do ano, a quebra nas vendas de ligeiros de passageiros, de acordo com a Associação Automóvel de Portugal (ACAP), foi de 45,6%, em relação a igual período do ano passado. Ou seja: venderam-se 80.057 veículos, contra os 147.031 que as marcas tinham escoado no ano passado. Mas a Porsche conseguiu dar a volta à crise e aumentar o negócio em 32,4%, vendendo, em média, dois carros a cada 24 horas.
A quebra nas rent-a-car, muito dependentes do turismo, que representam 28% das vendas de carros novos, e no canal frotista (que terá uma quota de 50% do mercado) ajudam a explicar a situação preocupante do setor. Mas não se esperem saldos.
"Esta é uma crise como a economia nunca viu e o mercado automóvel nunca enfrentou. O lay-off tem permitido manter muitos postos de trabalho, mas se este mês a situação se mantiver não sabemos o que pode acontecer", afirmou Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP.
Sem receitas milagrosas, a associação salienta que o setor é dos mais afetados pela crise provocada pelo covid-19, mas que o Governo "nada fez, apesar da nossa importância para a economia nacional".
Uma opinião secundada por Massimo Senatore, diretor-geral da BMW Portugal. "Todos os meses, desde março, observamos números realmente preocupantes e que nos fazem pensar bastante sobre o futuro do setor. Consideramos que, num país onde a indústria automóvel tem um peso muito importante, representando 25% do total das exportações de bens transacionáveis, é urgente que o Governo apresente um plano de incentivo à procura, à semelhança de outros países", afirmou.
Rent-a-car a pique
Muito dependente do rent-a-car e das frotas (carros de serviço), o setor encara a segunda metade do ano com cautela.
"As rent-a-car representam 28% do mercado e, até maio, compraram menos 25% de carros novos. Também as empresas em geral estão a adiar as decisões no que diz respeito aos carros cedidos aos seus colaboradores", salienta Helder Pedro.
Líder do mercado, a Renault recusa "ações promocionais hard", preferindo "apostar em ofertas de financiamento que nos parecem ser a solução mais adequada num período em que o rendimento médio vai diminuir", refere Ricardo Oliveira, diretor de comunicação da Renault Portugal.
A Ford, esperando que o mercado português comece a reagir e que as vendas melhorem já este mês, realça que "a nossa expectativa é que o impacto da pandemia possa ser duradouro, motivo pelo qual é fundamental contar com um plano de estímulo específico para reativar o mercado".
Já a Nissan aposta nos incentivos à compra de veículos elétricos, à retoma, preços competitivos e uma campanha de usados com financiamento até 120 meses, mas defende que "o Estado poderia, sobretudo, estimular o consumo para renovar o seu parque circulante e incentivar o abate".
Kia foi mais longe na "fuga" à covid-19
A Kia Portugal lançou, logo no início do confinamento, o Kia Vibe (Virtual Buying Experience, ou Experiência Virtual de Compra), uma experiência que a empresa diz ser inovadora na Europa, permitindo escolher o modelo, cor, equipamento, motorização, pagar e esperar que o carro lhe seja entregue à porta.
No centro logístico da marca, nos arredores de Lisboa, foi construído um estúdio, com cerca de 500 m2, onde estão 13 modelos em exposição e dois funcionários, denominados Digital Genius. Quando o cliente estabelece o contacto na plataforma, o Genius assume-se como um tradicional vendedor. Mas, aqui, mostra em live video o exterior e o interior da viatura, permitindo ao comprador ver todos os pormenores que desejar.
Se naquele espaço não estiver o modelo ou a cor que o cliente pretende, o vendedor vai buscar um ao centro logístico, coloca-o em estúdio e liga ao cliente para o mostrar.
Resta agendar um test-drive e combinar o local da entrega, já que até o financiamento pode ser tratado online.