"O lucro fica na estrada" afirma, perentório, Tiago Familiar, funcionário da FullMarket, uma empresa de representações comerciais, quando confrontado com os aumentos sucessivos do custo dos combustíveis e a mossa que os mesmos estão a provocar no negócio. As deslocações aos clientes são, agora, mais criteriosas do que nunca.
Corpo do artigo
A carrinha é um instrumento diário de trabalho imprescindível, mas Tiago Familiar não esconde a preocupação que a equipa sente a cada anúncio de aumento dos combustíveis. "Todos os dias, temos de nos fazer à estrada para visitar e angariar clientes e sentimos bastante o aumento dos combustíveis", confirma.
Habituado a fazer milhares de quilómetros pelo país e a abastecer a viatura, frisa que a diferença dos custos com o combustível, em relação aos anos anteriores, é notória. "Em 2020, atestava o depósito da carrinha com cerca de 60 euros. Neste momento, são necessários mais de 90 euros para encher o mesmo depósito".
Os custos com as deslocações sempre fizeram parte das contas que o negócio exigia para aferir da sua viabilidade. Mas nunca se apresentaram como um elemento tão determinante e decisivo como hoje. A cada deslocação, há um gasto que é multiplicado em função das visitas que são necessárias definir como imprescindíveis. "Ao final do ano, faz muita diferença nos custos para a empresa".
"Nesta altura, pensamos muito bem antes de sair para a estrada. Quando o combustível se encontrava a um preço razoável, nem havia grandes preocupações e a nossa prioridade era tentar visitar o número máximo de clientes". Perante a atual realidade, "deixamos de visitar o mesmo cliente duas vezes por mês, passando a deslocar-nos apenas uma única vez".
Usar videochamadas
E se os atuais preços se mantiverem, "já estamos a ponderar iniciar outro tipo de aposta nos contactos, que passará pelo recurso prioritário a videochamadas e a telefonemas, em detrimento de andar na rua". Contudo, Tiago Familiar reconhece que esta opção pode prejudicar as oportunidades de negócio. "Usar um computador para nos relacionarmos com a clientela não é a mesma coisa do que o cara a cara, onde criamos uma relação mais séria com o cliente e aumentamos a oportunidade de negócio".
Mas, reitera o funcionário, "temos mesmo que ponderar todas as alternativas e pensar se vale, realmente, a pena sair para a rua e pegar no carro. Estamos a falar no aumento dos combustíveis, mas também subiram as portagens e muitos outros gastos relacionados com as deslocações, como a alimentação e as estadias. Até as manutenções da viatura aumentaram", atenta.
Perante o crescimento galopante dos combustíveis, "é necessário fazer muito bem as contas sobre as margens que temos na venda dos produtos. Muitas vezes, o possível lucro de um negócio acaba por ficar na estrada", precisou.