Agricultores falam em quebras de 70% na apanha de final do mês. Governo anuncia apoios para inovar e aumentar a produção.
Corpo do artigo
Sete euros é quanto custa em média o quilo das primeiras cerejas do Fundão, cuja época abriu oficialmente esta semana. Valor ditado pela baixa quantidade disponível, para já, para o mercado, devido à variação da temperatura. Apesar das quebras previsíveis na produção na ordem dos 70%, a ministra da Agricultura anunciou apoios extraordinários e desafiou o município a sensibilizar os agricultores a cobrirem os pomares com material fotovoltaico, para tornar os cerejais "mais competitivos".
O primeiro quilo de cerejas, feito com 33 unidades da variedade rocket, um fruto de polpa mais dura, menos perecível e de calibre acima do normal, rendeu (em leilão) 660 euros e foi arrematado pelo empresário Miguel Caniça. Vai reverter para o Centro de Migrações do Fundão, que tem acolhido muitas famílias ucranianas.
Considerando a cereja "um ativo muito importante do ponto de vista dos recursos endógenos, quer para a região, quer para o país", Maria do Céu Antunes desafiou o presidente da Câmara a ajudar os produtores a avançar para esta solução. Quanto às quebras, a governante recorda que "há seguros que ajudam os agricultores a terem um encaixe sempre que têm quebras na produção. O próprio plano estratégico da Política Agrícola Comum tem um fundo de emergência rural para fazer face a pequenos prejuízos, mas é preciso tomar medidas estruturais".
Tela fotovoltaica
"Estamos disponíveis a abrir um aviso específico para a cobertura dos pomares, em sistema de túnel" e, "em vez de um plástico orgânico ou biodegradável, cobrir parte dos pomares com uma tela que tem uns filmes fotovoltaicos, capazes de produzir energia limpa. Com isso, as comunidades rurais podem acrescentar valor ambiental à sua produção. Ao mesmo tempo que protegem os pomares, aumentam a produtividade e garantem a sustentabilidade económica e ambiental do setor".
A solução "já foi testada nos EUA e no Canadá e estamos disponíveis para a trazer para Portugal, para a região, mas também para a zona do rio Mira (sudoeste alentejano), nos frutos vermelhos, ou Armamar e Moimenta da Beira, para a maçã, onde já colocamos redes antigranizo e podem vir ainda a ser melhoradas deste ponto de vista", reitera a ministra.
"Vemos com bons olhos os apoios para a cereja mais temporã, que surge no final de abril e início de maio, porque o processo de produção das primeiras cerejas fica mais dependente do clima. Ora, num tempo em que a normalização climática não existe, as maiores perdas ocorrem nas primeiras cerejas. Vamos falar com as associações de produtores, em diálogo direto com o Ministério da Agricultura", afirma o autarca Paulo Fernandes.
Ajudas aquém do investimento
Por parte dos produtores todas as ajudas são bem-vindas, mas na questão em concreto há algumas reticências. Patrique Martins explica ao JN que "a colocação de uma cobertura em túnel custa cerca de 60 mil euros por hectare, mas as ajudas ficam muito aquém desse valor, podendo no máximo atingir os 17 mil euros". Mas para um material com características fotovoltaicas, "o investimento será muito superior, ajudaria mas é financeiramente incomportável", diz.
Trás-os-Montes
Alfândega da Fé espera mais e melhor
Os agricultores de Alfândega da Fé esperam um ano de mais e melhor cereja, para compensar a quebra acentuada da produção no ano passado, que ultrapassou os 50%. "Prevê-se uma diminuição na colheita em todas as variedades, sobretudo no fruto que amadurece mais cedo, mas não tão grave como em 2022", explicou João Vítor, técnico da Cooperativa Agrícola de Alfândega da Fé. A quebra na produção fica a dever-se a vicissitudes climatéricas, nomeadamente, "ao frio e a algumas noites de geada no final de março e no início de abril, durante o período de floração". Em Alfândega da Fé, a colheita começa no fim deste mês, sendo o grande período da apanha nas primeiras semanas de junho. Esta cereja não tem dificuldades de escoamento. Em 2022, o preço subiu, face à falta de fruto no mercado. "Nunca tinha atingido valores tão altos, a rondar os três euros o quilo", referiu o técnico.
Saber mais
Altitude
O Fundão apoia a investigação, em campos experimentais em baixa e média altitude, que determina as variedades que melhor se adaptam à mutação climática, transferindo depois o conhecimento e a tecnologia aos agricultores.
Microclima
A região tem uma localização privilegiada, com uma grande diversidade de microclimas, que permitem ter mais de 40 variedades de cereja, espalhados pelos mais de dois mil hectares de pomares.
Internacionalização
A investigação visa ainda a internacionalização, estudando formas de lutar contra a perenidade da cereja, não descurando o uso de fitossanitários químicos, o uso racional da água, a telegestão e gestão dos pomares e o comércio digital.