As propostas da cimeira franco-alemã para resolver a crise da dívida na zona euro foram recebidas com cepticismo pela classe política francesa, à excepção do partido do Presidente francês, Nicolas Sarkozy.
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A "decepção" é partilhada por diferentes analistas ouvidos hoje pela imprensa francesa, que salientam a falta de medidas imediatas e manifestam "inquietação" com a proposta de uma taxa sobre transacções financeiras.
Jean-François Copé, líder parlamentar da União para um Movimento Popular (UMP, no poder), foi quase uma voz isolada ao manifestar "regozijo" pela ideia de uma "regra de ouro" nas constituições dos 17 países da zona euro que torne obrigatórias as políticas de equilíbrio orçamental.
Sarkozy e a chanceler alemã, Angela Merkel, propuseram na terça-feira em Paris uma governação económica europeia comum e a introdução, a partir de Setembro, de uma taxa sobre as transacções financeiras.
Fora da UMP, tanto à esquerda como à direita, as reacções foram de cepticismo ou de viva condenação.
Martine Aubry, a líder do Partido Socialista e candidata às primárias do partido para as eleições presidenciais de 2012, afirmou que a cimeira de terça-feira foi uma "cortina de fumo mediática".
A secretária nacional do PS francês acrescentou que a "regra de ouro" é "uma regra vaga que não vem regrar nada", acusando Nicolas Sarkozy de efectuar "reformas que não são financiadas e que carregam os défices".
Um comunicado pouco habitual do PS francês, co-assinado por um dos dirigentes mais próximos de Martine Aubry e um outro próximo de François Hollande, seu grande rival nas primárias de Outubro, denuncia "uma cimeira de impotência".
Hoje de manhã, Hollande acusou o Presidente francês de ceder a Angela Merkel na questão das "Eurobonds", lamentando que na cimeira franco-alemã não se tivesse dado um passo no sentido da mutualização da dívida na zona euro.
Na extrema-direita, Marine Le Pen, líder da Frente Nacional (FN), primeira a reagir num comunicado distribuído logo depois da cimeira, acusa Sarkozy e Merkel de "organizar a partilha do fardo da dívida".
Para a líder da FN, Sarkozy e Merkel apenas decidiram em Paris "quantos mais mil milhões de euros a França e a Alemanha (gastarão) para resgatar os países vítimas do euro".
Marine Le Pen considerou "irresponsável" a proposta de uma governação económica e condenou a "ideia suicida" do Presidente francês de "precipitar a zona euro no federalismo".
Jean-Luc Melenchon, presidente do Partido de Esquerda, condenou também as propostas franco-alemãs saídas da cimeira de Paris, afirmando que não trazem nenhuma medida concreta para atalhar a crise da dívida.
"Em vez de medidas concretas para proteger os povos do assalto dos mercados, Nicolas Sarkozy e Angela Merkel persistem, sem imaginação, em submeter-se às exigências da finança", declarou Melenchon.
