Proximidade protegeu mais as empresas do interior durante meses do confinamento
As insolvências aumentaram 12,21% no primeiro semestre deste ano e a criação de novas empresas diminuiu 34,39% em comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com a Iberinform.
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Mas há distritos, no interior, onde as insolvências diminuíram e as novas empresas praticamente não abrandaram. Maior prevalência de negócios de proximidade e familiares pode explicar a resiliência nos meses em que os distritos industrializados e exportadores foram mais afetados.
O fenómeno das insolvências devido à pandemia de covid-19 foi mais intenso nos centros urbanos de maior dimensão e de maior pendor exportador no litoral, como Viana do Castelo ou Santarém (+34% e +37% de insolvências, respetivamente). Nos distritos do interior, como a Guarda, Bragança ou Vila Real, as insolvências até diminuíram 40%, 8,3% e 9,5%, respetivamente. Na criação de novas empresas, a tendência de "esperar para ver" foi mais homogénea, com exceção de Portalegre, que viu nascer praticamente o mesmo número de empresas que em 2019 (-8%). Olhando ao indicador de quantas empresas nasceram por quantas entraram em insolvência, é no interior (e em Aveiro) que se está melhor.
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"Nas regiões de baixa densidade populacional, os negócios tendem a ser mais de serviços de proximidade e essenciais e esses foram os que mais cresceram durante o confinamento", apontou José Manuel Félix Ribeiro. O economista recorda que as regiões mais industrializadas "dependem mais de outras, inclusive da exportação, por isso tendem a localiza-se no litoral, mas no interior são mais autónomas, regra geral". Além de trabalharem para mercados mais próximos, são, muitas vezes, "empresas familiares, que dificilmente entram em insolvência, preferem aguentar a crise".
O cenário do primeiro semestre pode alterar-se, para pior, na altura em que cessarem os apoios, no final deste ano ou no início de 2021. "As políticas de apoio à economia (lay-off, moratórias, linhas de crédito) têm permitido que muitas empresas estejam em situação zombie, isto é, adormecidas de forma a voltar ao normal quando as encomendas regressarem. Muitas poderão não conseguir chegar lá e há estimativas de aumento muito significativo das insolvências no final deste ano ou no início do próximo, quando as empresas começarem a ter de pagar encargos adiados e os apoios cessarem", explicou Berta Cunha, especialista em seguros de crédito na MDS.
agilidade e recuperação
Tendo em conta os fatores que protegeram as empresas do interior durante o confinamento e os setores mais afetados por lá (empresas de transportes, comércio por grosso, construção), em comparação com os setores afetados nas cidades exportadoras (indústrias, imobiliário, turismo, restauração, construção), é possível que a recuperação, por sua vez, chegue mais depressa ao litoral. "Estas regiões estão mais ligadas a outras, enquanto o interior é mais autónomo, portanto também têm mais agilidade mal haja retoma", considerou Félix Ribeiro.
Quando chegará a recuperação? "Há dois fatores determinantes: a possibilidade de haver uma segunda vaga e o nível de confinamento que os países possam fazer; e o grau de impacto positivo das políticas públicas de apoio ou se os apoios que vão ser disponibilizados, nomeadamente pela UE, serão bem aproveitados", resumiu Berta Cunha.