Empresa de calçado tem salários em atraso. Lay-off foi recusado e há despedimento coletivo no horizonte.
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Os cerca de 50 trabalhadores da fábrica de calçado Fersali, em Guimarães, ainda andam às voltas com as burocracias para ver se conseguem fazer valer os direitos laborais depois de terem pedido a suspensão dos seus contratos de trabalho.
Os salários de maio, junho e julho e o subsídio de férias estão por liquidar e, embora a pandemia da covid-19 tenha vindo complicar a tesouraria da empresa, a situação já não estava fácil antes de março, altura em que a Fersali parou, de vez, a produção de calçado.
"Há uns anos que, por volta do mês de abril, havia pouco trabalho e falta de encomendas, mas acho que a pandemia acabou por ser um argumento para a machadada final", disse, ao JN, José Maria Faria, há 25 anos a trabalhar nesta empresa da freguesia de Aldão. O sentimento que a situação era periclitante, mesmo antes da pandemia, é generalizado entre os trabalhadores desta indústria de calçado, mas "os salários foram sempre cumpridos até agora ao mês de maio", realça José Maria.
Sem se querer identificar para esta reportagem, uma das trabalhadoras da Fersali que de perto trabalhava com a administração da empresa, não tem pejo em afirmar que se notava "que as coisas estavam a descambar. Com a pandemia piorou, mas a situação já não era famosa". Conhecedora dos fluxos financeiros da empresa, esta trabalhadora explica que "as encomendas do estrangeiro foram canceladas e houve clientes que deixaram de pagar algumas que já estavam feitas". Uma situação que foi fatal para uma empresa especializada no fabrico de calçado em pele, detentora da marca Karisma, que vivia do mercado externo e que viu fechar o escoamento de produto para os mercados francês, espanhol e norte-americano. "Esta situação aconteceu connosco, mas há mais empresas nas mesmas condições", ressalvou.
Durante o período de confinamento, a Administração ainda tentou aderir ao regime de lay-off para os cerca de 50 funcionários mas os pedidos ao Estado foram indeferidos. "Sabemos bem porque é que o Estado não atribui esse apoio do lay-off. As coisas já não estavam bem e havia compromissos por cumprir", desabafou a funcionária da Fersali. Apesar de a empresa não ter sido declarada insolvente, os funcionários confessam que a ideia que a Administração lhes transmitiu era a de um despedimento coletivo. Grande parte destes cerca de 50 trabalhadores está já à procura de emprego, mas há ainda quem acalente a esperança de uma ressurreição da Fersali. Assim os mercados o permitam, assim a covid-19 não volte a complicar a vida de indústrias tradicionais, como é o caso do calçado.