Dúvidas sobre a economia chinesa e a possilbidade de os Estados Unidos aumentarem as suas taxas de juro levaram à reação dos mercados.
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1 - A China tem tentado lentamente "arrefecer" a economia, habituada a crescer perto de 10% ao ano, e mudado o foco do crescimento das exportações para o consumo privado. O objetivo é evitar o sobreaquecimento económico que resulte, por exemplo, no rebentamento das bolhas imobiliárias e bolsistas entretanto criadas. Mas a economia, sobretudo o consumo interno, não tem reagido como Pequim esperava. Tem crescido menos do que o antecipado e mesmo os dados oficiais levantam dúvidas: de acordo com a imprensa económica mundial, os investidores desconfiam que, no segundo trimestre deste ano, a economia tenha crescido 4%, em vez dos 7% reportados oficialmente. Ainda assim, uma taxa de 7% seria a mais baixa dos últimos 25 anos, de acordo com a "The Economist".
2 - Existem muitas dúvidas sobre a robustez da economia chinesa. Porque existe muito pouca transparência e fiabilidade na informação oficial e porque o nível de endividamento tem crescido exponencialmente. É certo que a China é o maior exportador do mundo e tem as maiores reservas de divisas, mas o McKinsey Global Institute calcula que a dívida do país tenha quadruplicado desde 2007. Muita está assente no imobiliário.
3 - A meio deste mês, o Governo chinês surpreendeu o mundo ao mudar a forma como é calculado o valor da sua moeda, o yuan. Em consequência, de um dia para o outro, a moeda perdeu 1,9% do seu valor, a maior queda diária da história moderna do país, de acordo com o "Finantial Times". No dia a seguir, as autoridades chinesas voltaram a permitir uma queda do valor do yuan. Só depois o Banco Central da China interveio, para segurar o seu valor. Estas decisões foram entendidas como uma tentativa das autoridades de Pequim para tornar as suas exportações mais baratas e assim compensar a fraqueza demonstrada pelo consumo interno enquanto motor da economia.
4 - Uma quarta razão tem raízes do outro lado do Pacífico. Era esperado que a Reserva Federal norte-americana (o banco central) aumentasse as taxas de juro de referência em setembro, a primeira subida no espaço de uma década. As taxas de juro estão historicamente baixas, mas o bom desempenho da economia dos Estados Unidos (sobretudo se comparada com a Europa), tem aumentado o risco de a inflação crescer além do desejado. Daí a possibilidade de os juros subirem. Contudo, para países terceiros, este apertar da política monetária norte-americana tem consequências negativas. Primeiro, com juros mais altos, será mais rentável investir nos Estados Unidos, desviando estes recursos dos outros países e prejudicando a sua economia. Por outro lado, um dólar mais forte faz com que outros países tenham de gastar mais dinheiro, na sua moeda, para pagar empréstimos concedidos em dólares ou para comprar matérias-primas como o petróleo. Quanto mais os investidores receiam que os países em vias de desenvolvimento deixem de pagar a sua dívida, mais tendem a fugir desses mercados, o que reduz o seu crescimento económico.