Primeiro, o FMI admitiu que Portugal estará, de novo, em recessão; ontem, o Banco de Portugal (BdP) divulgou as previsões de Outono, admitindo uma "dinâmica contraccionista severa e inescapável", já que a redução da dependência de endividamento terá que ser feita ao mesmo tempo pelo Estado, empresas e famílias.
Corpo do artigo
Em linha com as contas da organização internacional, as de Carlos Costa antevêem uma estagnação para 2011 (tal como o FMI), mas não consideram as últimas medidas de austeridade - foi precisamente o seu impacto que levou o FMI a, horas depois de falar de estagnação, passar a prever uma quebra da riqueza em 1,4%.
O BdP não concretizou o impacto esperado na riqueza e no desemprego e, até, utilizou uma expressão passível de ser interpretada como a admissão de que seriam ainda precisas mais medidas: "A 29 de Setembro, o Governo aprovou um conjunto de medidas adicionais a incluir na proposta de Orçamento para 2011. No entanto, as medidas de carácter permanente desde já bem especificadas não parecem ser suficientes para garantir a prossecução do objectivo assumido para 2011".
A afirmação - globalmente entendida e divulgada como a admissão de possíveis novos cortes - foi depois clarificada pelo departamento de imprensa do Banco de Portugal. "São erróneas" essas interpretações, já que o BdP apenas considera "as medidas de política orçamental já aprovadas em termos legais, ou com elevada probabilidade de aprovação legislativa, e especificadas com detalhe suficiente", disse, em nota às redacções. Ou seja, não considera o anúncio de 29 de Setembro.
Em todo o caso, entende que a adopção de medidas de contenção é imperativa, apesar do impacto negativo no crescimento e no desemprego. O cenário alternativo de descontrolo das contas públicas seria ainda pior, porque implicaria "custos (...) incomensuravelmente mais elevados", alertou.
O BdP lembrou, ainda, que mal os mercados financeiros comecem a estabilizar, a Banca perderá aquela que tem sido a sua quase exclusiva fonte de financiamento: os empréstimos sem limites do Banco Central Europeu. A poupança será, então, fundamental para que haja dinheiro a circular na economia. Neste momento, lembrou, o investimento de famílias e empresas está "em mínimos históricos".