Face ao perigo de bancarrota, sem dinheiro para pagar as dívidas ao exterior, Portugal negociou um empréstimo com o Fundo Monetário Internacional em 1983.
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Num Governo liderado por Mário Soares e Mota Pinto, e com Ernâni Lopes como ministro das Finanças, as medidas aplicadas foram severas. A forte desvalorização do escudo, a subida da inflação para quase 30%, aumentos de impostos e uma quebra nas despesas públicas, levaram ao desemprego, salários em atraso e à descida do consumo privado.
Ontem, Êrnani Lopes disse ao JN que "o programa de estabilização 1982/83 e a situação actual pouco têm de comum, a não ser a leitura superficial dos sintomas, mas o quadro geral da situação, à época e agora, é profundamente diferente". "O euro mudou tudo, a adesão à CEE tudo mudou, e os instrumentos de política económica são outros".
No entanto, caso Portugal tenha necessidade de recorrer, hoje, ao FMI as medidas a tomar seriam idênticas: "Os programas de estabilização não têm grande inovação", avançou o ex-ministro, explicando que o mecanismo funciona usando "as quatro políticas de regulação - monetária, orçamental, cambial e de rendimentos e preços - em simultâneo, de modo convergente, para actuarem num período relativamente curto de forma a obter um resultado que corrija um mau comportamento acumulado de vários anos".
Para que haja empréstimos são impostas condições. No entanto, Ernâni Lopes garantiu que "o FMI não obrigou Portugal a tomar medidas". "O Governo português sabia perfeitamente quais eram as medidas a tomar, definiu-as e tomou-as". O papel do FMI foi, então, o de proporcionar perante a banca internacional uma garantia de "rigor e de credibilidade" das autoridades e da política económica portuguesa. "Foi o verdadeiro papel do FMI, eficaz e útil".