O economista norte-americano Joseph Stiglitz acredita que a Europa e os Estados Unidos estão "a seguir um caminho errado", porque "a austeridade quase nunca funciona" para reanimar as economias. Mexer nas taxas de câmbio é, na sua óptica, melhor caminho do que reduzir salários.
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"A Europa tem de perceber que a austeridade não é solução. O crescimento não aparece sem assistência" externa, disse Stiglitz, prémio Nobel da Economia em 2001, durante o 4.º congresso da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED), que se concluiu, esta quarta-feira, em Lisboa.
Stiglitz considera que o mais recente plano europeu de combate à crise, atingido numa cimeira em Dezembro, "parece focar-se apenas em austeridade". Para o Nobel, a insistência no rigor orçamental parece destinada a evitar "a próxima crise" em vez de combater a actual.
"A Europa não devia estar a pensar na próxima crise, mas sim nesta", disse Stiglitz, acrescentando que "não ter défices não ia evitar a próxima crise - lembrem-se que a Espanha e a Irlanda tinham orçamentos equilibrados".
Para Stiglitz, os problemas da Europa estão radicados num "conjunto de ideias sobre como fazer os mercados funcionar", e que "estavam em voga" na altura em que foi assinado o tratado de Maastricht (1992).
"Esses pontos de vista estavam na moda na altura, foram desacreditados, sobretudo à luz de crise de 2008", afirmou. "A diferença entre os EUA e a Europa é que na Europa muitas destas ideias foram integradas na estrutura" das instituições comunitárias.
Uma dessas ideias "desacreditadas" é ter um banco central cuja grande prioridade é o controlo da inflação. "A inflação é importante, mas não é a única coisa que importa. Os riscos económicos associados a inflação são grandes, mas são minúsculos comprados aos problemas associados" a uma falha sistémica da economia, afirmou Stiglitz.
Os períodos de recessão "não são a melhor altura" para fazer privatizações, disse o economista.
"As recessões profundas não são a melhor altura para privatizar - acaba-se por vender [as participações públicas] ao desbarato", afirmou Stiglitz.
Além disso, há "poucas provas de um melhor desempenho [das empresas] após a privatização".
Stiglitz mostrou-se muito crítico da resposta dos governos europeus à crise - particularmente do recurso a políticas de austeridade.
"A resposta dos economistas às vezes é [fazer uma] 'desvalorização interna'. Ou seja, como não se pode mexer na taxa de câmbio, reduzir salários", afirmou o economista. "Mas isso não é prático, e causa grandes dificuldades sociais".