O governador do Banco de Portugal realçou que só tinha duas alternativas para lidar com a situação do BES, a resolução e a liquidação, considerando que a primeira, mesmo que corra mal, nunca será pior do que a segunda.
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"Ninguém imagina o que é resolver um banco. Uma semana depois, um tipo está esgotado. Se correr tudo bem, muito bem. Se não, nunca será pior do que se houvesse liquidação", afirmou Carlos Costa no decorrer da sua audição na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES/GES.
"Resolver um banco é uma tarefa cujo trabalho que dá ninguém imagina. Os meus colegas aqui foram heróis", sublinhou o governador, apontando para os restantes membros do supervisor bancário que o acompanharam nos trabalhos parlamentares.
"Valeu a pena os poucos cabelos pretos que tinha terem desaparecido. Não desejo nem ao meu pior inimigo ter que passar por aquilo que a equipa do Banco de Portugal passou", salientou.
E acrescentou: "Naquela quinta-feira [31 de julho de 2014] eu estava num beco sem saída".
Carlos Costa referia-se ao dia em que o Banco Espírito Santo (BES) apresentou as suas contas relativas ao primeiro semestre do ano passado, marcadas por um prejuízo histórico de 3,6 mil milhões de euros.
"Tivemos uma teleconferência ao meio-dia de dia 1 [de agosto]. Mas até aí nós não sabíamos sequer se o que íamos propor ia ser aceite", sublinhou. Houvesse resolução ou recapitalização pública, teria que haver intervenção da Direção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia.
"Pouco depois de publicados os resultados [Bruxelas] já estava a perguntar aos seus interlocutores, que é o Ministério das Finanças, como é que é agora. Estávamos a trabalhar em cima do arame", ilustrou o líder do supervisor bancário.
"Imaginem que isto se passava uma semana mais tarde. A dificuldade de ter gente em Bruxelas [na Comissão Europeia] e em Frankfurt [Banco Central Europeu] mobilizada para nos ajudar tinha sido completamente diferente. Porque tinham ido de férias", assinalou.
E revelou que foi tomada a decisão de aplicar uma medida de resolução ao BES. "Decidimos fazer a resolução e ligámos ao nosso especialista em resolução que já estava de férias a caminho do Minho e teve que voltar para trás. Não houve qualquer premeditação, mas a necessidade de responder a uma situação em que na segunda-feira podíamos ter um problema sistémico de grande amplitude", destacou Carlos Costa.
O governador sublinhou que a manutenção da estabilidade do sistema financeiro é a primeira grande responsabilidade do supervisor e que uma corrida aos depósitos iria prejudicar todas as instituições que atuam no mercado bancário português, comprometendo seriamente esse objetivo.