O ex-ministro das Finanças Teixeira dos Santos lamentou, esta quarta-feira de manhã, não ter conseguido reforçar os poderes de supervisão financeira enquanto esteve no Governo e admite que o que se passou com o BES e com o grupo Espírito Santo mostra que "a supervisão tem falhas".
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Ouvido na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES/GES, o ex-ministro das Finanças de José Sócrates entre 2005 e 2011 disse que nunca lhe foi reportado pelas entidades de supervisão "qualquer problema" com o BES e com o Grupo Espírito Santo (GES).
"Para mim isto que aconteceu ao BES foi sem dúvida uma surpresa", disse aos deputados, que o questionaram sobre se, enquanto esteve no Governo, teve algum "indício" ou "informação" que a situação do banco e do grupo se estava a deteriorar.
Teixeira dos Santos negou também que o grupo liderado por Ricardo Salgado tenha alguma vez sido favorecido nos negócios lançados pelo Estado no governo de José Socrates, designadamente as parcerias rodoviárias.
Teixeira dos Santos admitiu que enquanto foi ministro "olhava com preocupação para o sistema financeiro" e que, durante a crise de 2010, desenvolveu "contactos frequentes" e teve "inúmeras reuniões" com responsáveis do sector financeiro, incluindo Ricardo Salgado, mas garantiu que nunca teve qualquer indício da situação de degradação do grupo.
O deputado do PSD Pedro Saraiva perguntou-lhe sobre se o facto de o BES ter comprado títulos da dívida pública durante a crise das dívidas soberanas poderá ter "precipitado" a situação no banco. Teixeira dos Santos respondeu que o BES "não esteve mais exposto do que outros bancos" e que, a ser assim, outras instituições teriam sido afetadas e mais cedo.
Teixeira dos Santos insistiu que, mais importante do que "assacar responsabilidades", é importante que para o futuro se façam alterações e reforcem os poderes da supervisão, o que lamentou não ter sido capaz de fazer enquanto foi ministro.
"Não basta dizer que aqui correu mal ou que devia ter corrido melhor. É preciso que os portugueses percebam que daqui resulta que algo vai mudar e melhorar na regulação do sistema financeiro", disse. Logo no início dos trabalhos, Teixeira dos Santos disse que "é uma tarefa de interesse nacional, de interesse público reestabelecer uma base sólida de confiança que é essencial para o funcionamento do sistema financeiro".