O conflito no Médio Oriente poderá levar a um aumento do preço do petróleo, mas mais por "efeito psicológico" do que por um impacto real na oferta e na procura, consideram alguns analistas.
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"O impacto psicológico, numa primeira fase, vai colocar pressão para uma subida dos preços", disse à agência Lusa o analista de mercados Ricardo Marques, da Informação de Mercados Financeiros (IMF).
Outro analista ouvido pela Lusa, que preferiu não ser identificado, também considera provável um reflexo do conflito israelo-palestiniano nas cotações do petróleo, sobretudo "pela incerteza gerada numa região que está próxima de países produtores de petróleo".
No entanto, Ricardo Marques considera esta evolução um pouco paradoxal, tendo em conta que, neste momento, o mercado está confrontado com um excesso de oferta.
"Está-se a produzir, estatisticamente, acima daquilo que se está a consumir. Há uma série de países que estão a bater recordes de produção, atingindo níveis de produção que já não atingiam há muito tempo, nomeadamente o Iraque", disse o analista da IMF.
"Estou convencido que o aumento do consumo em 2012 face a 2011, ou não existiu, ou foi residual. Há um excesso de oferta no mercado, e se não houvesse esse excesso o mercado ressentir-se-ia muito mais com o embargo ao Irão, o que não aconteceu", acrescentou.
Para Ricardo Marques, este embargo ao Irão até pode estar a ser positivo para outros produtores, que não estão disponíveis para uma redução da produção e que beneficiam de um afastamento do Irão dos mercados.
Já Ana Pinto, investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) e especialista em geopolítica do Médio Oriente, entende que os efeitos no preço dos combustíveis só podem advir do ambiente político criado, e não de fatores económicos.
"Nem Gaza nem Israel têm petróleo. O que existe é uma possibilidade de exploração no mar de Gaza de gás, mas não é essa a questão que se coloca. É certo que qualquer conflitualidade naquela região automaticamente promove alterações nos preços dos combustíveis, mas é pelo potencial de contaminação regional, porque, nem do ponto de vista do fornecimento, nem das rotas, nada em termos de recursos petrolíferos passa diretamente por ali", explicou a investigadora.
Só no domingo, 31 palestinianos morreram na sequência de ataques israelitas, naquele que foi o dia mais mortífero da ofensiva israelita.
Desde o arranque, na quarta-feira, da ofensiva israelita contra Gaza, como "resposta" ao lançamento de foguetes pelo Hamas contra território de Israel, 83 pessoas morreram, incluindo 80 palestinianos, a maioria dos quais civis, e três israelitas.