O secretário-geral da Organização Mundial do Turismo, Taleb Rifai, defendeu que o turismo deve ser colocado ao serviço da recuperação económica por países que atravessam dificuldades, como Portugal.
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"No caso de Portugal, a questão não é como pode crescer, mas antes se pode dar-se ao luxo de não usar o turismo na sua recuperação", sustentou Taleb Rifai, secretário-geral da Organização Mundial do Turismo (OMT), em entrevista à agência Lusa.
O representante sublinha que "o crescimento do turismo não depende dos recursos", mas da existência de "vontade política" que "não depende do dinheiro".
Se forem adotadas "políticas e incentivos corretos e todos estiverem sensibilizados para o turismo, pelo contrário, o turismo pode ser parte da solução e não parte do problema", ajudando na recuperação, na medida em que "cria mais empregos e gera mais receita".
"Muitos ainda não chegaram a essa conclusão e é aí que o problema reside", salienta o secretário-geral da OMT. Há, no entanto, há exceções, como a Tunísia, "historicamente mais avançada do que a Líbia". A crença no turismo, afirma, levou "a pequena Tunes a atingir, de longe, muito melhores resultados".
"Não é o tens, é que fazes com o que tens e o que fazes vai refletir-se na cadeia de valores e tornar a economia melhor", vincou o secretário-geral.
Não obstante o atual panorama, a Europa, "fundação e berço do turismo", continua a receber 52 a 53% dos turistas de todo o mundo e a enviar entre 53 e 55%, sendo, por isso, "um grande jogador" no xadrez do turismo a nível global.
"Na verdade, no quadro desta difícil situação económica, o turismo tem figurado como um setor de 'refúgio' para a economia da Europa, sobretudo o internacional, já que o doméstico está a sofrer na Europa devido ao poder de compra atualmente limitado dos europeus", avaliou Taleb Rifai.
Já o internacional tem crescido "muito mais do que se esperava" e deu um 'pulo' de 5% na primeira metade do ano, "numa altura em que o desempenho da economia em muitos países está estagnado ou a recuar", enalteceu o secretário-geral da OMT.
"Crescimento do turismo representa uma vantagem"
Taleb Rifai defendeu ainda que "sem uma parceria público-privada não há hipótese para qualquer indústria ou atividade económica de crescer, particularmente o turismo, porque na realidade é dirigido pelo privado e não pelo Governo".
"O Governo deve ter a perceção de que o crescimento do turismo representa para si uma vantagem, porque cria mais empregos, gera mais receita e ativa a economia enquanto o setor privado deve sentir que está a fazer a sua parte na construção das bases para um turismo sustentável".
Antes, porém, é "preciso estabelecer-se aquilo que chamamos de parceria pública-pública", isto é, o Governo tem de trabalhar como um todo em prol do turismo, frisou.
"Os Ministérios da Saúde, Interior, Educação, Ambiente, Transportes devem sentir que são tão responsáveis pelo turismo quanto o ministério da tutela e assim o setor privado vai sentir-se mais confiante. Como se pode promover o turismo se um departamento governamental decide parar a emissão dos vistos, por exemplo, tornando mais difícil às pessoas entrarem no país, ou se a administração da aviação restringe voos?", atirou.
O exemplo chinês
Na opinião de Taleb Rifai, há mais países a ganharem consciência disso e a China figura como um exemplo.
"Na China há duas coisas muito importantes que aconteceram recentemente: uma foi, em 2009, quando se definiu o turismo como um dos cinco pilares da economia". Tal significa que "cada administração governamental é responsável, dado que é uma política nacional e não setorial e, desde então, as coisas tem mudado de forma brutal".
Depois houve "interessantes e importantes desenvolvimentos", nomeadamente no "encorajar as pessoas a tirar férias, dando-lhes mais espaço para viajar e gastarem dinheiro, e relaxamento de vistos", elencou o dirigente da OMT, ao considerar que "a China se encontra legitimamente na sua posição como número um mundial em termos de fonte de turistas".
E, em paralelo, "vai provavelmente tornar-se o número um como recetor" não daqui a muito tempo, afirmou o secretário-geral da OMT, que embora não querendo entrar no campo da "adivinhação" prevê que a China - número três a esse nível -, possa ascender ao topo em 2020.