A redução da participação da Telefónica no capital da Portugal Telecom de 10 para 2%, anunciada, ontem, quarta-feira, foi vista hoje com desconfiança pelo presidente da PT, que tem dúvidas que se trate de uma venda efectiva.
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"Não sei se a Telefónica vendeu ou não, penso tratar-se de um esquema financeiro denominado 'equity swap'. Não acho que seja efectiva, tecnicamente não sei se configura como uma venda", afirmou hoje Zeinal Bava num pequeno almoço debate em Lisboa, promovido pelo “Jornal de Negócios”.
O presidente executivo da PT fez uma analogia com a linguagem futebolística para caracterizar a operação na qual a Telefónica reduziu a participação na PT para dois por cento. "Parece-me que há aqui um fora de jogo. Vamos ver o que o árbitro decide", ironizou o gestor.
Zeinal Bava especificou que o árbitro, neste caso, é a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e o presidente da mesa da assembleia geral da PT, Menezes Cordeiro.
"Nenhum árbitro anda distraído. O presidente da assembleia geral é das pessoas mais qualificadas juridicamente e a CMVM é um dos melhores supervisores da Europa. Tenho a certeza que vão analisar esta operação", considerou.
Bava abordou ainda a possibilidade de a Telefónica ter ultrapassado a fasquia de 10% na PT através de posições indirectas em fundos de investimento.
"Ninguém pode ter mais de 10%, como manda os estatutos. É proibido, ficaria surpreendido se a Telefónica tivesse mais de 10%, mas fica a dúvida", frisou o presidente da PT.
"O regulador tem de decidir isso, mas não se afigura uma venda efectiva", reforçou.
Questionado sobre se acha que a Telefónica vai poder votar na assembleia geral de 30 de Junho, que decidirá a venda ou não da fatia que a PT detém na brasileira Vivo por 6,5 mil milhões de euros, o gestor disse não querer comentar uma vez que a sua opinião no caso "vale muito pouco".
"Tenho confiança total de que os accionistas vão tomar a decisão certa para o médio e longo prazo", salientou Zeinal Bava, que considerou a forma como a Telefónica está a tentar comprar a fatia da operadora portuguesa na Vivo como "uma traição".
Segundo o presidente da PT, a Telefónica "podia ter procurado outras alternativas", ainda que tenha sublinhado a grande diferença de dimensão entre as duas operadoras ibéricas.
Ainda assim, Zeinal Bava disse acreditar que a PT e a Telefónica poderão continuar a trabalhar em conjunto mesmo se a proposta de compra da participação portuguesa na brasileira Vivo falhar.
"A Telefónica já esteve do lado da Sonae aquando da OPA. Viramos rapidamente a página e permitiu-nos continuar a trabalhar", sublinhou Zeinal Bava. "Vamos ter que ter a mesma maturidade", garantiu.