Entre vinhas de altitude, vinhas antigas e uvas não tradicionais do Douro, a Conceito entra numa fase renovada. Tem uma nova dupla de enólogos e novas referências, que foram apresentadas recentemente na Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira.
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Já passaram 20 anos desde que saíram para o mercado as primeiras referências Conceito. Mas o projeto liderado por Carla Costa Ferreira começou antes. "A primeira plantação de vinha foi nos anos 1980, ainda eu estava na faculdade de engenharia", conta Carla na apresentação de um "novo capítulo" da marca.Foi a paixão por uma "terra perdida" entre São João da Pesqueira e Vila Nova de Foz Côa que levou a empresária a desejar fazer vinhos diferentes no Douro Superior.
Recentemente, a enóloga Rita Marques saiu da empresa e Carla convidou Lília Cerdeira (ex-Lavradores de Feitoria) para construir uma equipa de raiz. Esta teria de fazer "a Conceito crescer, não esquecendo a essência e a origem". Foram, então, buscar Paulo Amaral e Décio Coutinho, dois enólogos de referência e com experiências diversificadas, sendo que Paulo trabalhou maioritariamente em Portugal e o duriense Décio, em França. Na Casa de Chá da Boa Nova, do chef Rui Paula, apresentaram as referências mais recentes, que marcam este novo capítulo.
Um dos mais experimentais dos vinhos apresentados foi o Bastardo Branco. Explica Paulo que este vinho nasceu quando, com Décio, passaram na parcela de Bastardo, casta tinta, que apresentava muitos bagos "verdes". "Mas eram verdes só de cor, porque já estavam doces", refere. Desta parcela, plantada nos anos 1990, decidiram fazer uma coisa nova. Assim, dez dias antes de vindimarem os cachos tintos colheram os brancos, na parte mais alta da parcela. "Foi o cacho inteiro para a prensa e fez-se prensagem muito suave. Houve bâtonnage semanal durante sete meses e em abril deste ano engarrafamos", conta.
O resultado é um branco mineral e delicado, com uma ligeira tosta devido ao estágio em barrica usada. Boa acidez e frescura são as características que se destacam. "Foi uma experiência de mil e poucas garrafas, uma aposta nossa que acho que é para continuar", diz.
O espírito de inovação que empurra a empresa a fazer vinhos fora da caixa já não é de agora. Em 2007, tinham já plantado em altitude, 600 metros, uma parcela da austríaca Grüner Veltliner. Com estas uvas faz-se o espumante. "As uvas estão situadas em solo de transição de xisto para granito, muito interessante para uvas brancas", conta. Este bruto natural, que não é um DOC Douro devido à casta estrangeira, tem uma grande acidez de base, o que é ótimo para a segunda fermentação em garrafa".Apresentou-se também o 100% Alvarinho.
Décio Coutinho conta que foi plantada há 12 anos esta casta mais conhecida na região dos Vinhos Verdes e na Galiza (Rías Baixas). "Percebemos rapidamente o seu potencial, com acidez e aromática, e decidimos que tinha de ficar como monocasta. Foi apanhada com acidez baixa e com muito cuidado, fez-se decantação ligeira e fermentou espontaneamente em cubas de cimento. Estágio oito meses, tornando-se num Alvarinho "com grande potencial de envelhecimento. Vai ser engraçado bebê-lo daqui a oito ou dez anos".
Outra novidade é o Arinto de curtimenta. Foi fermentado como um tinto, com remontagens suaves e sem grande extração. No final da fermentação, o vinho tinha uma acidez muito alta e só estaria bebível daqui a uns anos, por isso incentivamos a fermentação malolática, o que o tornou mais leve", conta Paulo Amaral. Mais um vinho de técnica e inovação para dar a conhecer outro Douro.