Os jovens chefs Rita Gomes e João Pires estão apostados em fazer pela Vreia de Jales o que fizeram pelo Porto, Espanha e Suíça. O casal encontrou na aldeia transmontana o lugar ideal para as suas criações culinárias felizes.
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Fazem tudo em conjunto, os chefs Rita Gomes e João Pires. Vida, profissão e descobertas. Mas a maior descoberta é a que nos é oferecida à mesa, nesta aldeia transmontana por onde não se passa; vai-se com o fim específico e nobre de partilhar a mesa. Espaço amplo, mesas bem espaçadas a gerar intimidade, e produto maravilhoso, de proximidade e raízes. Como todos os restaurantes deviam ser.
A carne maronesa tem trono real e tratamento culinário de excelência. O cabrito serrano é rei e senhor, os felizes animais saltarilham pelo Alvão e Falperra, em constante corrupio, como é de esperar da sua franca juventude. O fumeiro sente-se logo à entrada, o porco bísaro a impor charme e mil encantos. Há truta de Boticas, processada na grelha, mas também curada e fumada pelos nossos heróis. O património micológico local tem grande influência na forma de cozinhar e nos geniais pratos por ele inspirados. Destaque especial para os boletos de Tresminas, garimpados por mãos sábias, transformados em ouro, evocativo de tempos que já lá vão. Este é o universo mental do casal de bravos criadores que insistem em dar-nos muito prazer à mesa.
A refeição aqui é sempre de antologia. Começa por snacks, petiscos que são disparos de sabor e dão uma ideia do tratamento culinário que nos espera. Tarte de cogumelos em escabeche é uma brilhante provocação, o escabeche de grande equilíbrio, a contrariar a ideia fixa de que é coisa ácida. Há um paté de fígado de frango que sabe bem explorar com o pão de massa mãe de trigo barbela feito aqui em casa. Fiquei viciado na espetada de carapau curado e cantarelos, e quero voltar só para provar de novo o pastel de massa tenra de tripas aos molhos. Onde terão eles ido buscar tal ideia? Já no capítulo entradeiro, surge uma proposta inesquecível. Espargos de Alijó, batata Kennebec e molho holandês fumado. Uma delícia! Vem ainda um glorioso bacalhau confitado, ornado com ovas e creme de alho-francês tostado. Socorro! Estou a ser bem tratado! É então que vem vitela maronesa de nove anos na brasa, acompanhada de salada de picle e pasta de frutos secos e pimentão. A refeição termina com laranja do Douro, lavanda e nabo, a matriz transmontana a fazer-se sentir.
Quando entrei, estava como em nenhures. Agora que chega o momento de sair, percebo que estava num palácio! Belos vinhos da Quinta de Arcossó, incrivelmente bem maridados e servidos. Casa transmontana prodigiosa.
Refeição ideal
Menu de seis momentos (46 euros)
Varia com as estações do ano e a disponibilidade de produtos da época
Avaliação
Sítio - 4/5
Serviço 4/5
Comida 5/5
O Forno de Jales
Rua do Brasil, 5, Vreia de Jales, Vila Pouca de Aguiar
Tel.: 916 301 886
Web: instagram.com/-ofornodejales
Das 12h30 às 14h30 e das 19h30 às 22h, de sexta a domingo
Preço médio: 46 euros