Na Taberna do Agro, perto de Elvas, Maria José de Sousa prepara pratos simples e com muito sabor que destacam a tradição alentejana.
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Maria José de Sousa é a mais discreta diva da cozinha alentejana. Se não fosse arredia das luzes da ribalta, seria já uma das suas mais conhecidas intérpretes. Tenho o enorme prazer de visitar há anos esta esconsa casa de aldeia que escolheu com o seu marido para instalar o demonstrador do seu talento. Faz parte do charme da Taberna do Adro, perto de Elvas, ser assim pequena.
À medida que a refeição se desenrola, transforma-se em palácio de que nunca mais nos esquecemos. Tudo muito simples, tão simples que só aqui se come assim. Entra-se por exemplo com farinheira alentejana assada, fininha e saborosa. A chef Maria José faz uma tortilha de batata daquelas que nos faz suspirar. Há paio do lombo servido em delicadas e finas fatias. E serve-se uma salada de pimentos em azeite de matriz bem alentejana, assessoria competente do alho.
Os carapaus de escabeche são deliciosos, quase configuram refeição completa. Mas é nos pratos de carne que encontramos o motivo da gula apurada que nos traz aqui. Falo da galinha tostada com trio de migas, batata, tomate e couve-flor. A galinha é cozida primeiro, depois é desfiada e vai para o tacho. Vai ficando pronta à medida que os pedacinhos se vão prendendo no fundo do tacho. Por isso se chama tostada. As migas são servidas em queneles, em travessinha de barro, e são deliciosas. Faz-se pezinhos de porco de coentrada na forma moderna, limpa dos ossícolos e cartilagens que encontramos na versão rústica.
Há carne do alguidar, a mista de pedaços que é evocativa da matança, habilmente passada por massa de pimentão e frita em banha ou azeite. O resultado é invariavelmente brilhante, aqui temos tudo de que precisamos para ser felizes. Faz-se um cachaço de porco assado no forno em que a peça é trabalhada inteira e resulta muito bem. As gorduras entremeadas fazem um trabalho magnífico e os temperos dão-lhe ainda mais vigor. Sem pressas nem atalhos.
E há um cozido de grão que não posso senão recomendar. É um dos pratos alentejanos de tacho que mais chego ao peito e tem uma magia muito especial. Dá vontade de repetir, várias vezes. Mas espera-nos a empreitada doceira, que aqui é de truz. Prove a sericaia, que é maravilhosa. A tarte de requeijão é alternativa muito válida. O bolo de cenoura é de recorte caseiro e é uma maravilha. E há pão de rala que é imperdível. No Taberna do Adro, o Alentejo agiganta-se em cada preparação, em cada prato e em cada receita. Tudo é único e inesquecível neste pequeno grande reduto.
Taberna do Adro
Largo João Dias de Deus, 1, Vila Fernando
Tel.: 268 661 194
Das 12h30 às 15h e das 19h30 às 22h. Encerra quarta e jantar de terça e domingo.
Preço médio: 22 euros