O Ministério Público (MP) pediu, esta segunda-feira, a condenação de um homem por ter convencido uma mulher, emigrada nos Estados Unidos da América (EUA), com quem mantinha uma relação na internet, a transferir-lhe 25 mil euros.
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"É uma burla e uma burla feia porque se aproveitou das fragilidades da mulher, criando nela um estado de dependência", disse hoje o procurador do MP do Tribunal São João Novo, no Porto.
O homem de 59 anos, a residir no Porto, conheceu a mulher de 69, divorciada e emigrada há 50 anos nos EUA, na rede social `Facebook" em 2012 e, após horas e dias de conversas, criaram uma relação amorosa e após juras de amor, convenceu-a a comprar um telemóvel e transferir-lhe 25 mil euros para investir num negócio de vinhos.
A ofendida só viria a descobrir a burla em 2014, após chegar ao aeroporto e o arguido não estar à espera dela, como havia sido combinado tendo, depois, deixado de lhe atender o telemóvel.
O procurador do MP realçou que a vítima lhe fez a transferência porque quis, mas o arguido agiu "com muita astúcia", aproveitando-se das fragilidades dela -- que tinha problemas de autoestima -- para conseguir o dinheiro.
"O arguido teve muito trabalho, esteve dois anos a criar uma relação com a mulher para conseguir o dinheiro e, na verdade, conseguiu porque ela estava totalmente dependente dele", disse.
Durante o julgamento, que começou hoje, o arguido, reformado e divorciado, confirmou que conheceu a mulher pela internet e criou "um certo carinho", mas nunca chegaram a conhecer-se, tendo-se cruzado hoje pela primeira vez.
O suspeito confirmou que lhe pediu cerca de 1.000 euros para comprar um telemóvel e mais 25 mil euros para comprar uma máquina para rotular garrafas de vinho para iniciar um negócio, máquina essa que nunca adquiriu.
O alegado burlão explicou não ter ido ao aeroporto porque tinha ido para o Douro comprar vinho.
"Depois disso, ela bloqueou-me no `Facebook" e fez uma publicação dizendo que era um vigarista e ladrão", afirmou. "Eu ainda não lhe paguei nada porque não tenho possibilidades, mas tentei por tudo, mas quero pagar-lhe", acrescentou.
O arguido terminou pedindo desculpas à ofendida, dizendo que não queria prejudica-la e ir fazer de tudo para lhe devolver o dinheiro.
Já a mulher, emocionada a relatar os factos, disse ter-se apaixonado por ele, mesmo não o conhecendo pessoalmente, porque vive sozinha, não tem família nos EUA e tem problemas de autoestima.
"Começamos a falar todos os dias, horas e horas, e depois ele pediu-me o dinheiro e, desde aí, notei um afastamento", explicou.
E realçou: "ele pediu-me duas vezes em casamento e falávamos em eu vir para cá para vivermos juntos e acreditei nele, mas fui enganada".
O advogada de acusação pediu uma pena efetiva porque se ficar com pena suspensa será um prémio.
"É um valor elevadíssimo, portanto, deve ser punido exemplarmente porque atuou muito mal com ela, achincalhando-a", entendeu.
Já o advogado de defesa pediu a absolvição porque o homem não tem antecedentes criminais e cuida dos pais, frisando que errou ao ainda não ter pago.