Novas regras de acesso ao Superior ameaçam tirar seis mil alunos aos politécnicos

Politécnicos avisam que os alunos desfavorecidos serão os mais afetados pelas novas medidas
Rui Oliveira / Global Imagens
Politécnicos receiam ter menos alunos, sobretudo no interior, com aumento do número de exames para ingresso.
No concurso nacional de acesso de 2019, o último a vigorar em normalidade, 10,4% dos candidatos tinham tido nota positiva apenas num exame nacional, concorrendo com uma prova de ingresso. São perto de seis mil alunos (5874) que, alerta o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), se aplicadas as mudanças anunciadas pela tutela - mínimo de duas provas, com maior ponderação -, ficariam de fora. Impactando mais nas instituições do interior.
Os cálculos constam de um parecer enviado pelo CCISP ao Ministério da Ciência e Ensino Superior. Tendo por base dados de 2019, explica ainda o CCISP que, naquele concurso, 31,7% dos candidatos (cerca de 18 mil) colocaram nas seis opções apenas uma prova de ingresso. Da base nacional, o CCISP trabalhou os dados dos politécnicos associados e da universidade do Algarve. Constatando que, naquele conjunto, 16,5% dos alunos colocados tiveram aprovação em apenas um exame e 40,7% concorreram com uma prova em todas as opções.
É este universo que projetam como perda potencial se avançarem as regras propostas pela tutela. A saber: os estudantes realizam três exames nacionais para concluírem o Secundário (menos um) e o acesso ao Superior utilizará entre dois e três desses exames como provas de ingresso (antes utilizava um a três). Sendo que a fórmula de cálculo também se altera, com os exames nacionais a ponderarem 25% na classificação final do Secundário (antes, 30%) e a contarem, no mínimo, 45% para efeitos de ingresso (antes, 35%).
Interior mais penalizado
"O modelo proposto, para implementar em 2025, vai levar a uma diminuição de candidatos. Quando associamos estes pelo menos seis mil alunos à diminuição de jovens em idade de ingresso no Superior, é preocupante", diz ao JN a presidente do CCISP. Acresce que "o impacto será maior nas regiões de menor densidade populacional, onde se quer promover o aumento de alunos e fixar pessoas", avisa Maria José Fernandes.
"O modelo proposto vai levar a uma diminuição de candidatos. Quando associamos a uma diminuição de jovens em idade de ingresso no Ensino Superior, é preocupante. Mais ainda quando o impacto será maior nas regiões de menor densidade populacional, onde se quer promover o aumento de alunos e fixar pessoas"
Os dados mostram que, se no Politécnico do Porto apenas 7% dos alunos foram colocados com aprovação numa prova, nos de Beja, Guarda ou Portalegre aquela proporção foi de 32% e 30,6% (em ambos), respetivamente. "O efeito será muito maior nas instituições do interior, porque, por regra, os alunos vão para o litoral, é dramático", considera.
"Em 2025 só pode ser pior do que este cenário. Ao passar de um para dois exames, vamos tirar gente do Superior", vinca, por sua vez, o presidente do Politécnico de Bragança. Lembrando que 75% dos cursos permitem concorrer com uma específica, Orlando Rodrigues questiona-se: "Se sempre funcionou bem, porque vamos exigir pelo menos duas? O único resultado é tirar alunos do Superior, dos politécnicos e do interior".
Números
75%
De acordo com o CCISP, três quartos dos cursos nas instituições públicas permitem, atualmente, o acesso com apenas uma prova específica.
17 291
No concurso de 2019, 31,7% dos alunos (quase 18 mil) candidataram-se com uma prova. E cerca de seis mil candidatos tinham tido positiva apenas num exame.
O que muda
Conclusão do Secundário
Os estudantes terão de fazer três exames - menos um -, sendo Português obrigatório e os outros dois à escolha. O peso no cálculo da nota final desce de 30% para 25%, passando as notas internas a valerem 75%.
Acesso ao Superior
A classificação das provas de ingresso passa a contar pelo menos 45% - antes, o mínimo estava nos 35%. E as instituições passam a exigir, no mínimo, dois exames - mais um - para efeitos de ingresso.

