Entre tesouradas e barbas aparadas, os protagonistas de "Variações" - Sérgio Praia que fez de António "Variações" Ribeiro, Victória Guerra que é "Rosa Maria" e Filipe Duarte "Fernando Ataíde", o amor da vida do barbeiro cantor -, falaram ao JN de uma figura da vida artística que marcou os anos 80, pouco tempo depois do cinzentismo que ainda reinava com a Revolução do 25 de Abril.
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"Pode ficar bonito dizer que é um papel de uma vida, mas acho que não é. Para mim todos são. Uns dão mais trabalho do que outros. Mas este é, sem dúvida, o papel em que tive mais condições para trabalhar e pesquisar". Quem o diz é Sérgio Praia, que aponta uma dificuldade particular: "Foi logo ao início, quando o realizador achou que tinha de cantar a banda sonora e eu entendia que não. O António tem um timbre muito específico e qualquer pessoa ia notar as diferenças! Por outro lado, no ensaio da voz, percebi que havia um lado ao vivo que ele devia ter".
Da desconfiança inicial, Sérgio virou cantor de mão cheia e há duas semanas atuou no Nos Alive. "Fomos celebrar com o público e houve sempre gente a cantar Variações".
Era bem resolvido
E o que mudou na ideia que Sérgio tinha do grande artista? "Quando fui para o casting sabia muito pouco. Pesquisei e duas coisas guiaram-me: sair da zona de conforto e o lado que ele tinha de estar sempre pronto. Tinha uma noção brutal de espetáculo. Não era um ato de se exibir, sabia o que queria fazer, não era paneleirice nem uma afirmação sexual. O lado sexual foi problema para os outros, não para ele. Era muito bem resolvido", remata.
Victória Guerra faz o papel de "Rosa Maria", a dona da discoteca Trumps e mulher de Fernando Ataíde. "A inspiração do António perdura até hoje, ele deixou um legado na música portuguesa e o filme retrata um lado que pouca gente conhece, a forma como ele criava e encarava a música. Ele não cedia a pressões", destaca a atriz. " Rosa Maria", mulher de "Fernando" o amor de Variações, era progressista. "Ela conhecia a história do Fernando com o António. Cuidaram muito uns dos outros e a "Trumps" acabou por ser o palco do vanguardismo da altura. Quando a discoteca abriu em Lisboa passou a ser um espaço de expressão livre para estes vanguardistas", acrescenta.
No triângulo amoroso entre Variações, Rosa Maria e Fernando Ataíde eis a opinião do ator que deu vida a este, Filipe Duarte. "É um filme que sai do nosso ego, é uma responsabilidade. Quanto mais fiquei a saber da vida dele, mais vontade tive de contar a história", diz. "O Fernando e a Rosa casaram-se, mas ela era tolerante e sem tabus. Ele gostava mesmo do António, era amor mesmo, numa altura de muitos preconceitos, de tudo muito fechado e a preto e branco. Havia a liberdade de andarem muito os três e isso incomodava muita gente", refere Filipe Duarte.