Jair Bolsonaro isolou-se no Palácio da Alvorada, em Brasília, e não se pronunciou sobre os resultados deste domingo, que deram a vitória a Lula da Silva. Segundo fontes da presidência, Bolsonaro foi dormir cedo, não contactou com nenhum dos ministros e não felicitou o adversário. Silêncio do líder preocupa, sobretudo depois de ter levantado rumores sobre a credibilidade do voto eletrónico.
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A manhã eleitoral de Bolsonaro começou no Rio de Janeiro, onde, com um sorriso no rosto, ao vestir orgulhosamente uma camisola amarela e verde - cores associadas à sua campanha - votou. Seguiu viagem até à residência oficial do presidente brasileiro, o Palácio da Alvorada, em Brasília, onde, junto da família, foi acompanhando a contagem dos votos. Mas se o domingo se iniciou com expectativa, o mesmo não aconteceu depois do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dar a contagem como fechada, por volta das 19.56 horas (22.56 em Portugal continental).
O vencedor, Lula da Silva, rapidamente se pronunciou, porém, Bolsonaro optou pelo silêncio, o que representa um marco histórico. Além de ser o primeiro presidente em exercício a não conseguir uma reeleição para o Planalto, Bolsonaro bateu um outro recorde. A ausência de uma reação pós-eleitoral marca a primeira vez que um candidato à presidência não reconheceu a derrota no mesmo dia das eleições desde que o país adotou o sistema das urnas eletrónicas, em 1996, permitindo conhecer o resultado poucas horas após o escrutínio.
Segundo fontes da presidência, Bolsonaro pediu aos assessores para avisarem a imprensa que preferia permanecer sozinho após a divulgação dos resultados, como tal, terá recusado várias chamadas, tanto de ministros do atual Governo como de apoiantes próximos.
O "Globo" indica que, no início da noite, o ministro da Energia, Adolfo Sachsida, chegou a dirigir-se à residência oficial, parou na porta e, após alguns minutos ao telefone, acabou por regressar para trás. Por volta das 22.00 horas (1.00 hora em Portugal continental), as luzes do Palácio da Alvorada apagaram-se e a informação foi de que Bolsonaro "tinha ido dormir cedo", escreve o jornal brasileiro.
O silêncio do candidato do PL foi seguido pelos apoiantes mais próximos, que evitaram comentar o resultado, esperando um posicionamento do presidente. Conhecidos pela presença constante nas redes sociais, também os filhos do líder brasileiro, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) optaram por não partilhar nenhuma declaração.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, foi a única pessoa que revelou ter estado em contacto com Bolsonaro, já que terá telefonado ao presidente para anunciar que confirmaria o resultado que atribuía a vitória a Lula da Silva. Segundo o juiz, foi atendido com "extrema educação".
"Ate às últimas consequências"
Perante um país partido ao meio, e numa altura em que conta com cerca de 59 milhões de apoiantes, Bolsonaro pode agora optar por uma de duas vias políticas.
Se aceitar os resultados proclamados pelo TSE, o atual chefe de Estado pode fechar, no fim deste ano, um capítulo da vida política, transferindo o poder para Lula da Silva sem levantar ruído político.
Por outro lado, caso opte por contestar, abrirá a porta a uma grave crise política no país, que poderá gerar uma onda de violência impulsionada pelos apoiantes. Recentemente, o líder do Brasil anunciou que iria "até às últimas consequências" para comprovar qualquer suspeita de fraude eleitoral, além de ter afirmado, várias vezes, que apenas respeitaria um resultado de uma eleição que considerasse "limpa".
Ainda que no último debate presidencial, na última sexta-feira, o presidente tenha assegurado que iria respeitar o resultado das eleições, a verdade é que o silêncio de Bolsonaro pode passar uma mensagem importante, sobretudo, porque foram muitos os momentos em que deixou no ar a hipótese de replicar um episódio semelhante àquele que ocorreu nos EUA, em 2021, quando os apoiantes de Donald Trump invadiram o Capitólio para contestar os resultados das eleições que deram uma vitória clara a Joe Biden.
Embora Jair Bolsonaro tenha saído derrotado destas eleições, o Bolsonarismo continua vivo no país. A prova disso é que o presidente ainda no poder obteve mais 400 mil votos do que em 2018 e conseguiu recolher mais cinco milhões de votos comparativamente com a primeira volta, que ocorreu a 2 de outubro.
De acordo com o "Globo", os aliados de Bolsonaro esperam uma reação do presidente ainda esta segunda-feira.