A alunagem bem sucedida do módulo Odysseus, no passado dia 22, marca o regresso à Lua dos EUA mais de 50 anos depois da missão Apollo 17, mas é também um motivo de orgulho para a língua portuguesa.
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É uma autêntica Arca de Noé do conhecimento da Humanidade, onde não falta a representação da língua portuguesa, e está desde o passado dia 22 na Lua.
O módulo Odysseus, da empresa Intuitive Machines, pousou a 22 de fevereiro com sucesso na superfície lunar, sete dias após ter descolado da Florida, tornando-se a primeira nave privada norte-americana a aterrar na Lua, naquele que foi também o regresso dos EUA ao único satélite natural da Terra após a missão Apollo 17, em 1972.
Odysseus, que tocou solo lunar próximo da cratera Malpert A, a cerca de 300 quilómetros do Polo Sul lunar, transportou experiências da NASA, como é comum neste tipo de missões, mas também levou a bordo um disco rígido com “as conquistas da humanidade, a história, a literatura, as línguas, as ciências, as artes, a música, o cinema, as filosofias e as religiões”, segundo descreveu Nova Spivack, empreendedor norte-americano de 54 anos, cofundador da Fundação Arch Mission.
O objetivo desta fundação é preservar o conhecimento humano. E os 100 gigabytes de informação que estão agora na Lua, num disco de níquel puro criado para durar milhões de anos, inclui a língua portuguesa, segundo confirmou Nova Spivack a Rodrigo Tavares, professor catedrático convidado na Nova SBE.
“Contém 'um currículo detalhado de língua portuguesa' com orientações sobre gramática, vocabulário e pronunciação. Foram também guardados quase quatro centenas de livros em português. Os mais representativos são Antero de Quental, Eça de Queiroz, Alberto Pimentel, Ramalho Ortigão, Alexandre Herculano e Camilo Castelo Branco. De Fernando Pessoa, apenas a poesia e o teatro estático publicados na revista Orpheu”, escreve o professor Rodrigo Tavares no espaço de opinião do semanário “Expresso”.
Descreve ainda que “são 100 gigabytes compactados com 30 milhões de páginas: uma cópia completa da Wikipedia em inglês com 6 milhões de artigos, 70 mil livros reunidos pelo Projeto Gutenberg, um repositório de 7 mil línguas e uma coletânea musical de 10 mil apresentações vocais do Projeto Earthling do Instituto SETI. O disco contém também uma seleção do conteúdo do Internet Archive, uma biblioteca sem fins lucrativos com milhões de livros, filmes, software, músicas, e sites gratuitos. Além disso, a fundação adicionou os seus próprios arquivos em arte (The Arch Lunar Art Archive), sobre definições e conceitos (The Arch Mission Primer), em literatura (The Arch Mission Private Library) e em religiões e espiritualidade (The Arch Mission Vaults).”
Um arquivo recolhido para perpetuar o conhecimento da Humanidade no Espaço, à semelhança de iniciativas semelhantes feitas na Terra. Como a recolha de sementes do Svalbard Global Seed Vault e o Arctic World Archive para preservação de dados, na Noruega, o Memory of the World da UNESCO de proteção do património documental ou o Rosetta Project, banco de dados online com o registo de todas as línguas humanas documentadas.