Nova esperança para tetraplégicos: medicamento brasileiro apresenta resultados inéditos

O neurocirurgião Marco Aurélio de Lima, com mais de 30 anos de experiência em cirurgias da coluna, participou nos estudos iniciados há sete anos em oito pacientes com lesões completas da medula
National Cancer Institute
Um medicamento ainda em fase experimental, derivado de moléculas da placenta, apresentou resultados promissores na reabilitação de pacientes com tetraplegia.
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Cientistas brasileiros da Universidade Federal do Rio de Janeiro apresentaram os resultados de uma investigação que desenvolvem há mais de 25 anos. Em fase experimental, o tratamento com o medicamento polilaminina, à base de uma proteína extraída da placenta, a laminina, devolveu parte da mobilidade a cães e humanos com lesões na medula espinal. Seis dos oito pacientes com tetraplegia submetidos ao tratamento apresentaram diferentes graus de recuperação motora. A Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ainda precisa de autorizar novos ensaios clínicos para garantir a segurança dos pacientes.
Os investigadores, médicos, fisioterapeutas e estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram que, quando introduzida no organismo, a polilaminina pode regenerar nervos e neurónios, criando uma ligação no local da lesão, ou seja, o medicamento permite ao corpo voltar a ligar as ligações danificadas na espinal-medula, o que devolve movimento.
A laminina é uma proteína presente no organismo humano, não apenas na placenta, que forma uma grande malha e facilita a troca de informações entre neurónios na fase embrionária da vida. Mais tarde, torna-se rara no corpo. A investigadora Tatiana Coelho de Sampaio descobriu que era possível recriar essa malha em laboratório, chamada polilaminina, a partir de proteínas extraídas da placenta.
O neurocirurgião Marco Aurélio de Lima, com mais de 30 anos de experiência em cirurgias da coluna, participou nos estudos iniciados há sete anos em oito pacientes com lesões completas da medula. Cada paciente recebeu uma única injeção de polilaminina diretamente na área lesionada, até 72 horas após o acidente.
"Isso é uma coisa inédita. Porque nenhum estudo tinha demonstrado isso até o momento. No mundo. Se a gente buscar hoje, a gente não vai encontrar nenhum um estudo no mundo com medicação atuando em regeneração medular que conseguiu isso", afirma o neurocirurgião ao jornal "Globo".
O estudo, liderado pela investigadora Tatiana Coelho de Sampaio, envolveu oito pacientes com lesões completas na medula espinal. Seis registaram diferentes graus de recuperação motora, enquanto dois não resistiram à gravidade das lesões sofridas nos acidentes. Antes disso, a experiência em cães com lesões mais antigas tinha obtido sucesso em quatro dos seis casos.
O registo da patente da polilaminina demorou 18 anos. Novos ensaios clínicos em humanos com o fármaco dependem da autorização da Anvisa, que aguarda informações adicionais para garantir a segurança do medicamento.
"Como foram testes académicos, o que a empresa está fazendo são testes complementares para atender os requisitos regulatórios, especialmente de segurança, para que a Anvisa autorize o início da próxima fase, que é a fase 1 com pacientes. Aí você pergunta: "Mas já foi feito um teste com pacientes?". Mas ainda de forma académica, poucos pacientes", explica ao "Globo" Claudiosvan Martins, coordenador de investigação clínica da Anvisa.
Especialistas afirmam que a investigação traz esperança, mas pedem cautela até que os resultados sejam comprovados nas novas fases do estudo.
