Na caravana da Volta a Portugal, há rostos femininos que se evidenciam e dão um toque diferenciador às equipas, maioritariamente dominada por homens. Em lugares de topo ou em funções de relevo, as mulheres desempenham tarefas indispensáveis, num desporto onde a organização, o afeto e a atenção ao detalhe são ingredientes para o sucesso.
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Em alguns casos, é justo dizer que o amor vem do berço. Nascida entre bicicletas, Mariana Azevedo herdou a paixão do pai, o ex-ciclista José Azevedo, e acompanha a Efapel Cycling sempre que possível. "Não é o meu trabalho, é o meu escape. Tirei férias para a Volta a Portugal e, quando acabar, volto à minha rotina", revela a gestora de redes sociais em "part-time" e médica dentista a tempo inteiro. Ciente da importância da presença digital, Mariana Azevedo estuda o que de melhor se faz lá fora e produz conteúdos criativos, ainda que, por vezes, surja alguma "resistência". "Eles estão sempre a dizer-me: "outro vídeo, Mariana? Mas gostam de participar e têm ideias, portanto é um desafio fácil", partilha a jovem dentista, de sorriso aberto e olhar carinhoso.
E se para Mariana Azevedo, os membros da equipa, desde o staff aos corredores, são como "segundos pais ou irmãos", na Tavfer-Ovos-Matinados-Mortágua, Leonor Silva é a "mãezinha deles todos". Há quatro anos assumiu as rédeas da equipa, após a morte do marido, o antigo corredor Pedro Silva, num desafio que classifica como "muito grande, mas engraçado e motivador". "Ser mulher é ser mulher: há sempre aquele miminho, aquela palavrinha que eles precisam", aponta Leonor.
É a primeira a acordar e a última a deitar-se, comandando a azáfama vivida não só durante a Volta a Portugal, como nas restantes provas ao longo do ano. Desde a preparação das etapas à higienização do autocarro no final da jornada, a presidente da estrutura de Mortágua está sempre presente e põe sentido à equipa sempre que necessário. "Têm muito respeito de mim, gostam muito de mim. Só não gostam muito quando eu lhes puxo as orelhas, mas tem de ser. Mas não puxo muitas vezes", afiança, bem-disposta.
À semelhança da "patroa" da Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua, Susana Conceição, massagista da Aviludo-Louletano-Loulé Concelho há duas temporadas, considera que a presença feminina devia ser reforçada, acompanhando a tendência internacional. Com uma década de experiência como massagista de equipas profissionais, a jovem de Loulé revela que nem sempre foi fácil coexistir no mundo de homens, "onde é preciso definir limites e procurar o equilíbrio". "A mulher, tendencialmente, é mais afetiva. Gosta mais do toque, o que às vezes pode ser um bocadinho mal interpretado. Mesmo a nível de trabalho, de pedirem mais coisas, porque se a gente começa a mimar demasiado, também é mau, tem que haver aqui um grande equilíbrio", considera Susana Conceição, defendendo que ter uma mulher na equipa é um fator distintivo. "É sempre uma mais-valia porque vê pormenores que os homens não ligam, mas que, na realidade, tudo somado, conta tudo".