Parapentistas no céu e ciclistas em terra partilham o mesmo "amor pela Graça", apesar de nunca se cruzarem. Quando o pelotão abandona o Monte Farinha, em Mondim de Basto, homens e mulheres com asas descolam do alto e apreciam o colorido rasto deixado pela passagem da Volta a Portugal, em plena comunhão com a natureza e com um profundo respeito pelo desporto.
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Quando a mítica etapa termina e a azáfama da caravana desce a Senhora da Graça, o céu começa a ser pontuado de pequenas asas coloridas que planam na tranquilidade. Apesar de só poderem voar quando a jornada de ciclismo acaba, e a solo, dada a logística acrescida com a corrida, os parapentistas do Clube Parapente de Basto sentem-se honrados por partilhar o local com os corredores. "Para nós, que temos a Senhora da Graça como a nossa casa e palco do voo, torna-se ainda mais espetacular porque conseguimos juntar duas modalidades que, no fundo, amam a Graça", afiança Maria do Céu Silva, membro da direção do clube.
Se a meteorologia estiver favorável, ainda há quem voe de manhã. Se não, só ao final do dia, o que também traz vantagens: só assim se sobe às nuvens e se aprecia o arrebatador pôr do sol de Mondim. "Temos um grande respeito pelos outros desportos e sabemos que, enquanto corre a Volta, não podemos voar. Ontem, que já havia população que vem de véspera para assistir à corrida, fizemos um voo e foi espetacular ver o público do ciclismo a aplaudir-nos. Acaba por haver esse intercâmbio que é muito bom para nós", partilha João Correia. Há sete anos que o farmacêutico de 59 anos, natural de Paredes, foi experimentar um voo e, desde aí, nunca mais parou. É com paixão que fala sobre a modalidade que pratica na "montanha de emoções" mondinense.
Convívio no clube
Enquanto os corredores estão na estrada, o Clube Parapente do Basto, a meio da subida para o alto da Senhora da Graça, recebe dezenas de amantes de ciclismo que rumam de todas as partes do país para ver a Volta a Portugal. É dia de rever caras conhecidas e de brindar à festa, num convívio onde não pode faltar bebida fresca e boa disposição. "É realmente um espaço mítico, tanto para os parapentistas como para os ciclistas. Junta-se a fome com a vontade de comer e é extraordinário. E aqui no clube, damos também de beber e de comer a quem vem nos visitar e fazemos deste dia uma grande festa", relata Maria do Céu.
Apesar de antagónicos, o parapente e o ciclismo também têm parecenças. Uma delas é a aerodinâmica, fundamental para um bom desempenho. Porém, cada um com a sua função. "Não teria coragem de subir a Senhora da Graça sem ser a voar", admite João.