Valentina tinha nove anos. Foi encontrada morta este domingo de manhã, em Peniche. Estava desaparecida há três dias. O pai e a madrasta são os principais suspeitos do homicídio.
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Como e quando ocorreu o desaparecimento?
Foi na manhã da passada quinta-feira, 7 de maio, que o pai de Valentina, Sandro Bernardo, de 32 anos, se dirigiu ao posto da GNR de Peniche para dar conta do desaparecimento da filha durante a noite. Desde as 8.30 horas daquele dia que o progenitor alegava não ter visto mais a menor. Nesse mesmo dia, a GNR começou as buscas por Valentina, com apoio dos Bombeiros Voluntários de Peniche, e já com a Polícia Judiciária no local.
Foram utilizados drones, animais (cães pisteiros) e várias patrulhas na freguesia de Atouguia da Baleia, Peniche, onde a família residia. Ao final do dia de sexta-feira, 8 de maio, ainda não havia sinais de Valentina. "Não houve quaisquer indícios" do paradeiro da criança, dizia fonte da GNR à agência Lusa.
A 9 de maio, sábado, as buscas continuavam de dia e noite e já com a ajuda de 100 voluntários, que responderam ao apelo da Junta de Freguesia de Atouguia da Baleia para reforçar as equipas. O objetivo era procurar em terrenos, casas abandonadas, anexos e quintas e não apenas no Bairro do Capitão, onde está localizada a casa do pai da menina. Durante as últimas horas, teriam sido encontradas algumas peças de roupa de senhora e de criança, mas que não pertenciam a Valentina.
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Segundo o comandante da GNR de Caldas da Rainha, Diogo Morgado, participaram nas buscas "mais de 600 elementos ativos, numa área percorrida de sensivelmente quase 4 mil hectares, palmilhada mais do que uma vez em alguns locais".
A 10 de maio, este domingo, as buscas foram retomadas de manhã cedo, mas terminaram ao final da manhã com a descoberta do corpo de Valentina.
Valentina já tinha desaparecido?
Segundo informações recolhidas durante os três dias do desaparecimento de Valentina, a PJ tinha adiantado que em 2018 a menina já tinha desaparecido de uma outra casa de família, no mesmo concelho. Foi encontrada mais tarde pelas forças policiais.
Valentina é filha de pais separados e estaria a passar uns dias com o pai na freguesia de Atouguia da Baleia. Vivia permanentemente com a mãe, mas durante o isolamento necessário face à pandemia de covid-19, estava há algum tempo com o progenitor. Na noite de sábado, 9 de maio, a mãe, Sónia Fonseca, publicava um texto desesperado no Facebook: "Mais um dia a acabar, mais horas que parecem não ter fim... Meu amor meu anjo minha vida, onde estás tu?".
Este domingo, horas após saber da morte da filha, a progenitora agradeceu a todos os que ajudaram a dar um desfecho ao "desaparecimento" de Valentina.
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O corpo da criança tinha sinais de violência?
Ainda não é claro em que estado foi encontrado o corpo de Valentina este domingo de manhã. A Polícia Judiciária confirmou em conferência de imprensa que a menina foi encontrada sem vida na Serra d'el Rei, a mais de 5 km de Atouguia da Baleia, tapada por arbustos. Embora haja informações de que Valentina poderá ter sido asfixiada pelo pai, o coordenador da PJ de Leiria, Fernando Jordão, não adiantou mais pormenores.
Também ainda não foi possível entender se foi o progenitor Sandro Bernardo que indicou às autoridades onde estava o corpo da filha. "As entrevistas e inquirições feitas a várias pessoas permitiram-nos fazer a correlação entre todos os dados que tínhamos em cima da mesa no sentido de colocarmos todas as hipóteses que seriam possíveis até encontrarmos indícios de condutas criminosas", disse Fernando Jordão.
Ainda assim, a PJ descartou a hipótese de que a morte de Valentina terá sido acidental. "Estamos a verificar [cenário da morte], mas claro que terá de ter acontecido em algum contexto de violência", acrescentou o coordenador desta força policial em Leiria. A Polícia Judiciária acredita que a menina terá sido morta na quarta-feira, 7 de maio, durante o dia, "por questões internas do funcionamento da família". A causa da morte ainda é desconhecida.
Quem são os suspeitos e de crimes podem ser acusados?
Ainda assim, recaem sobre Sandro Bernardo, o pai de 32 anos, e Márcia, a madrasta de 38 anos, "fortes indícios" dos crimes de homicídio qualificado e ocultação de cadáver, avançou a PJ. Os dois têm mais três filhos, "de 11/12 anos, quatro anos e outra com meses", que poderão ter assistido a alguma coisa. A PJ já ouviu a criança mais velha.
Fernando Jordão disse não ter informações de que Valentina fosse vítima de maus tratos e de que a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens tivesse esta família sinalizada. O JN sabe que este organismo estará agora a acompanhar o caso.
O pai e a madrasta de Valentina terão falado recorrentemente com as autoridades durante estes dias. Não prestaram declarações aos jornalistas, nem terão participado ativamente nas buscas. Segundo alguns populares de Atouguia da Baleia, ambos terão estado descontraídos durante este "desaparecimento". "Andei sempre nas buscas e mantive a esperança. Mas ontem achei estranho porque, quando estive na casa de um vizinho, ele disse-me que em casa da menina havia um ambiente demasiado descontraído" , disse Carlos Santos, morador, ao JN.
Como se vive o caso em Atouguia da Baleia?
Desde cedo que a população desta freguesia de Peniche se empenhou na descoberta do paradeiro de Valentina. De civis a escuteiros e até ao presidente da junta, foram muitos os que procuraram a menina de nove anos. Paulo Franco, dono do café Forno da Vila, conhecia bem Valentina. "Era uma menina muito doce", revelou ao JN, garantindo que lhe "custa a acreditar" no envolvimento dos pais. "Sempre que ela vinha ao café, eu via o pai e a madrasta, à janela de casa, a controlar se estava tudo bem com ela", afirmou.
Este domingo à tarde, os olhares concentraram-se na casa onde a criança vivia. Os suspeitos estiveram no local com a PJ para reconstituir o crime. Num poste, à porta da habitação, uma mulher colocou um ramo de flores de homenagem a Valentina. Não a conhecia, mas tinha idade para ser sua neta.