Refugiado afegão morava num sétimo andar de Odivelas e era muito bem visto pelos vizinhos ouvidos na quarta-feira pelo JN.
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Quando a Polícia Judiciária se dirigiu ao florista Gilberto Araújo e lhe perguntou se conhecia o refugiado afegão que matou duas mulheres no Centro Ismaili, em Lisboa, o empresário ficou em choque.
"Nem queria acreditar que fosse este o responsável por crimes tão macabros. Era um homem admirado por ser pai solteiro com três filhos que andavam sempre impecáveis na rua, bem cuidados, educados, bem dispostos!", desabafou ontem, ao "Jornal de Notícias", o proprietário da Odivelflor, no rés do chão do número 52 da Rua Major Caldas Xavier, em Odivelas.
Abdul Bashir morava com os filhos no 7.º andar daquele prédio e não fazia transparecer problemas de integração, nesta zona de Odivelas habitada por muitos residentes de longa data, com bastante comércio de rua e ainda uma grande comunidade hindustânica.
Vizinho emprestava cão
O refugiado afegão costumava ser visto num estabelecimento vizinho a comprar pequeno almoço para os filhos e também era conhecido na farmácia local, onde chegou a adquirir medicamentos para as crianças, mas nunca lhe foi aviada qualquer receita médica de antidepressivos.
No entanto, ontem, a Polícia Judiciária fez saber que o refugiado afegão estava medicado e, apesar disso, terá sofrido um "surto psicótico" que o levou a cometer os homicídios no Centro Ismaili.
Um vizinho, que pediu para não ser identificado, conta que chegou a "emprestar" o seu cão aos filhos de Abdul Bashir, para que fossem brincar com ele no apartamento do 7.º andar.
"Nunca estive em casa dele e não sei o que acontecia lá dentro, mas pelo que conversava com ele, nunca se mostrava triste, cabisbaixo ou enraivecido com a vida em Portugal, como se veio a verificar agora", afirma o vizinho.
Na pastelaria da rua, o funcionário Samuel Alves conta que Abdul Bashir se dirigia ali quase diariamente e que se comportava como outro qualquer cliente. "Não se destacava, era pacato, simpático e muito dedicado aos filhos, foi um grande choque", afirma o empregado.
Abdul Bashir pedia o que os meninos queriam, sem nunca ali tomar o pequeno almoço, e esperava pela carrinha do colégio que levava os filhos para a escola. Depois seguia a sua rotina, que era desconhecida para a vizinhança com quem o JN falou ontem, e era novamente visto por volta das 17 horas, quando a carrinha do colégio trazia os filhos de regresso a casa.