Pouco depois de ter chegado a Portugal com o estatuto de refugiado, Abdul Bashir foi diagnosticado como tendo perturbações mentais, o que lhe valeu um acompanhamento em psicologia na Cruz Vermelha Portuguesa. Mas nunca as consultas detetaram um estado clínico perturbado ao ponto de ser capaz de cometer o duplo homicídio do Centro Ismaili, em Lisboa, onde levou, escondida dentro da mochila, a faca que usou para matar as duas mulheres.
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Os exames médicos pelos quais passou logo no início do processo de atribuição do estatuto de refugiado permitiram detetar uma perturbação merecedora de acompanhamento e medicação. Assim Abdul passou a ser seguido na Cruz Vermelha ao mesmo tempo que frequentava o Centro Ismaili.
Sem interromper a terapia, o refugiado foi para a Alemanha com os três filhos. Foi ter com familiares, mas teve de regressar a Portugal por ter sido este o país que lhe concedeu o asilo com proteção subsidiária.
Voltou as consultas que não eram de caráter obrigatório. Mas, de acordo com informações recolhidas pelo JN, interrompeu-as por vontade própria. O estado mental poderá assim ter piorado.
Na manhã de terça-feira, em casa pegou uma faca de grandes dimensões que escondeu na mochila e foi para o Centro. Já poderia estar a desenvolver uma obsessão por Mariana Jadaugy, por quem teria uma paixão não correspondida. Era a véspera da viagem para a Suíça com os três filhos menores. Recebeu por telefone a nega de um documento oficial sem o qual não podia ir para Zurique, de onde poderia tentar novamente chegar a Alemanha. A reação foi violenta.
Esfaqueou mortalmente Farana Sadrudin, de cerca de 40 anos, e Mariana Jadaugy, de 20. Também atacou um professor que sobreviveu a golpes de faca no peito e pescoço. Ainda se virou para uma outra funcionária do centro que tinha vindo em auxílio das vítimas, mas esta conseguiu fugir e barricar-se.
As vítimas devem ser sepultadas esta sexta-feira e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, fez na tarde desta quinta-feira uma visita ao Centro Ismaili. Em declarações aos jornalistas voltou a frisar que o caso era um ato isolado, sem motivações terroristas e fez questão de elogiar a investigação da Polícia Judiciária que "de forma célere" apurou ser um crime de delito comum.