Acusação de Duarte Lima diz que motivação do crime é o que impressiona
A promotora de Justiça responsável pela Acusação no caso de Duarte Lima, no Brasil, afirmou, esta quinta-feira, que o que mais a impressionou no assassinato de Rosalina Ribeiro foi a motivação do crime.
Corpo do artigo
"Achei muito desproporcional ele ter feito o que fez por seis milhões de euros - que é uma quantia muito considerável - mas que, para uma pessoa do porte dele, pela riqueza que tem, pelo estilo de vida sofisticado que tem e sendo uma figura pública, achei muito desproporcional", declarou a promotora Gabriela de Aguillar Lima.
Em conferência de imprensa realizada no Rio de Janeiro, a promotora comentou pela primeira vez o teor das provas recolhidas pela polícia do Rio de Janeiro, nas quais baseou o pedido de prisão preventiva contra o ex-deputado.
Duarte Lima foi acusado pela justiça brasileira de ter matado Rosalina Ribeiro, que foi secretária e companheira do milionário português Lúcio Tomé Feteira. Na terça-feira passada foi pedida a prisão preventiva do advogado.
Segundo a responsável, as primeiras explicações enviadas por Duarte Lima, via fax, à Justiça brasileira, "caíram por terra" com provas técnicas como imagens da câmara de segurança do hotel onde estava Rosalina e de documentos que confirmaram que esteve no local um dia antes do crime, ao contrário do que havia afirmado à polícia inicialmente.
"(O que Duarte Lima disse inicialmente) caiu por terra por outras provas técnicas que também foram bem aliadas e que mostraram que tudo o que ele falou não conferia", afirmou Gabriela de Aguillar Lima, a exemplificar os principais pontos de incoerência.
"Disse que deixou a senhora Rosalina num hotel, em Maricá, na companhia de outra senhora chamada Gisela, ou Gisele, e as câmaras do hotel não confirmaram isso. Também foi feito contacto com donos do hotel e não havia nenhuma hóspede que se chamasse Gisele, nem nenhuma pessoa que tivesse relação com a senhora Rosalina", ressaltou.
Numa outra altura em que a polícia do Rio de Janeiro tentou entrar em contacto com Duarte Lima, o ex-deputado terá dito que estava protegido por sigilo profissional, o que não era verdadeiro.
"Efectivamente ele nunca foi advogado da senhora Rosalina, não havia nenhuma procuração outorgada pela senhora Rosalina a Duarte Lima, então ele não estava sujeito a nenhum sigilo profissional", explica.
De acordo com a promotora da Acusação, Duarte Lima, noutro momento, recusou falar à polícia alegando que, como suspeito, deveria ter tido acesso ao processo. A promotora observa, no entanto, que até então isso não havia ocorrido porque ele próprio se dizia apenas testemunha e não suspeito.
"Foram vários mecanismos com os quais ele, na verdade, só atrapalhou a investigação e, na medida em que atrapalhava, fazia com que as suspeitas recaíssem cada vez mais sobre a sua pessoa", reforçou.
Com a morte de Feteira, Rosalina, que não era a única herdeira, transferiu valores da conta conjunta que mantinha com ele para contas bancárias apenas em seu nome. Em seguida, ela transferia os valores para contas bancárias de terceiros, dentre os quais Duarte Lima.
A filha do milionário, Olímpia de Azevedo Thomé Feteira de Menezes, descobriu uma série de manobras fraudulentas levadas a cabo por Rosalina Ribeiro e denunciou-a à Justiça portuguesa.
Ao tomar conhecimento da queixa, Duarte Lima passou a pedir insistentemente a Rosalina que assinasse uma declaração que o isentasse de qualquer responsabilidade em relação aos valores transferidos para conta bancária de que era titular e que afirmasse que ele não possuía nenhum montante proveniente dela.
Rosalina Ribeiro ter-se-à negado assinar o documento e Duarte Lima assassinou-a até porque a mulher se tornou na "peça chave para incriminação do denunciado, que, ao que tudo indicava, teria de devolver a quantia outrora depositada na sua conta bancária, no montante de 5.250.229 euros".
Rosalina Ribeiro foi morta a 7 de Dezembro de 2009. Inicialmente dada como desaparecida foi encontrada morta posteriormente com com dois tiros em Saquarema, na região dos Lagos, no estado do Rio de Janeiro.
Segundo fontes judiciais, Duarte Lima, antigo presidente do grupo parlamentar do PSD, pode ser julgado em Portugal se as autoridades brasileiras o pedirem, ou à revelia, uma vez que Portugal não extradita cidadãos nacionais.