Padre acusado de crimes sexuais contra menor reclama inocência e afirma que o seu caso não passa de "mito urbano de uma cidadezinha de Viseu".
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O padre Luís Miguel Costa nega os crimes de coação sexual e de aliciamento de menores para fins sexuais de que está acusado pelo Ministério Público (MP). O sacerdote, que tem 46 anos e está suspenso de funções na Igreja desde o verão passado, quebrou o silêncio para reclamar inocência.
"Nego completamente a acusação, estou inocente e quero dizer que já recorremos da decisão do MP", começou por dizer o pastor, em declarações ao JN.
O ex-responsável pela paróquia de São João de Lourosa, em Viseu, garantiu que, nas perícias feitas ao seu telemóvel e computador, bem como nas buscas realizadas à sua casa, "não foi encontrado rigorosamente nada de qualquer conteúdo relacionado com aliciamento de menores ou com pedofilia". "São coisas que eu absolutamente abomino e condeno de forma total", assumiu.
Julgado na praça pública
O pároco criticou o "lamentável julgamento" e a sua "condenação em praça pública", que, em sua opinião, tem sido "deplorável". "Estou e sou inocente e confio na verdadeira Justiça", frisou.
Questionado pelo JN sobre as informações de que teria enviado mensagens de teor sexual a menores e a homens, Luís Miguel Costa refutou-as, defendendo que tudo isso não passa de "um mito urbano de uma cidadezinha de Viseu, que é uma cidade pequena e, às vezes, não pode ver um padre a beber um copo num bar ou noutro sítio qualquer, que fica logo com ilusões e pensamentos menos próprios".
"Existem vários mitos urbanos, pequenos boatos que se criam e que depois se desconfirmam", prosseguiu, sempre reclamando inocência. De resto, afirma-se "tranquilo", agora que conhece a acusação.
O MP acusa o arguido de um crime de coação sexual agravado, na forma tentada, e outro de aliciamento de menores para fins sexuais.
Os factos remontam a 27 de março de 2021 e tiveram lugar num convívio numa adega em São João de Lourosa. Segundo a acusação, "o arguido, quando se encontrava sentado ao lado de um menor, à data dos factos com 14 anos, tocou com a sua mão na mão da vítima e, pouco depois, deu-lhe conta do seu propósito de se relacionar sexualmente com aquele".
Depois, diz o MP, o padre "convidou o menor para se encontrar com ele no WC", onde o puxou "para junto de si, aproximou os seus lábios aos dele, procurando repetidamente beijá-lo na boca, o que este evitou". Depois do episódio, enviou mensagens escritas ao rapaz, "aliciando-o para um encontro a fim de se relacionar sexualmente com ele", sustenta ainda o MP.
O jovem terá resistido aos avanços do padre e só no dia seguinte contou aos pais o sucedido. A família fez queixa às autoridades judiciais e religiosas.
Coação
Juiz proíbe padre de contactar menores
Luís Miguel Costa vai aguardar o desenrolar do processo em liberdade. Na sequência da acusação, foram agravadas por um juiz as medidas de coação a que o arguido estava sujeito. Continua sob o termo de identidade e residência, mas agora também está obrigado a apresentar-se quinzenalmente às autoridades e proibido de contactar, por qualquer meio, com menores de 18 anos. Ao nível da Igreja, o padre foi afastado da paróquia de São João de Lourosa, que liderava há uma década. Isso aconteceu em agosto último, após a denúncia da alegada vítima. Foi ainda suspenso de todos os cargos que ocupava no seio da Igreja.
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Caso em instrução
O advogado do padre já requereu a abertura de instrução, por "discordar em absoluto da acusação" e para evitar o julgamento.
Evitar mais vítimas
A advogada do menor quer "que este caso fique resolvido, na proteção da vítima e [para que] que outras crianças sejam poupadas a situações semelhantes".
Silêncio geral
O bispo de Viseu, a Comissão Diocesana de Proteção de Menores e o vigário judicial não comentaram a acusação.
Outro caso em Viseu
A Comissão Diocesana de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis de Viseu também tratou o caso de uma mulher que diz ter sido "violentada" por um padre, há anos, numa paróquia.