Ryia, uma amiga nepalesa do jovem de 19 anos que está a ser julgado por planear um ato terrorista contra colegas na Faculdade de Ciências de Lisboa, no início do ano, defendeu o amigo em tribunal, considerando que as ameaças de morte que recebeu de João Carreira e os planos da matança que lhe revelou eram uma brincadeira. "Vou matar-te no espaço de duas semanas", foi a mensagem que recebeu.
Corpo do artigo
"Não levei nada a sério porque ele era meu amigo", disse em tribunal a jovem, de 22 anos, a quem João também revelou os seus planos para levar a cabo o atentado, enviando-lhe até imagens de armas que comprara na internet, como uma besta e facas. "Ele disse que ia ser uma missão suicida, mas eu não sou culpada de nada", afirmou a testemunha.
João e Ryia conheceram-se numa plataforma onde alunos se inscrevem para realizar trabalhos para diversas cadeiras na universidade. "Ele pediu-me amizade, disse que não tinha parceiro para um trabalho e perguntou-me se queria juntar-me com ele. Assim começamos a falar e ficámos amigos". João contou-lhe que ia ser notícia por levar a cabo um ato terrorista na universidade. "Ele chegou a referir que em Portugal as autoridades não ligavam a atos terroristas que aconteciam diariamente nos Estados Unidos da América, mas nunca o levei a sério, como uma ameaça".
Ontem, em tribunal, o perito do Instituto Nacional de Medicina Legal que fez a avaliação psiquiátrica do jovem não teve dúvidas em dizer que ele tinha a consciência de distinguir o certo do errado. Mesmo tendo em conta a perturbação do espetro do autismo que lhe tinha sido diagnosticada em tempos e que "faz com que este não perceba quais as consequências emocionais que os seus atos tenham em terceiros". "Também sofria duma depressão ligeira, que nunca foi acompanhada de episódios psicóticos", disse ainda Bruno Trancas.
A mãe e o avô do arguido também testemunharam para garantir que o jovem não sabia lidar com armas e tinha pavor de sangue. O avô disse que ele "até tinha medo de pegar no canivete que tinha para tomar conta da horta em casa". Já a sua mãe contou que a mera visão de sangue o fazia chorar. "Uma vez viu um coelho pendurado, com sangue, virou costas e disse que não conseguia ver".