As alegações finais do julgamento do jovem acusado de planear um ataque terrorista à Faculdade de Ciências de Lisboa decorreram, esta manhã de sexta-feira, no Campus de Justiça, em Lisboa.
Corpo do artigo
O Ministério Público pediu pelo menos três anos e meio de cadeia efetiva, com acompanhamento psiquiátrico, para o jovem que planeou um ataque terrorista à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e responde em tribunal pelos crimes de terrorismo e detenção de arma proibida. O advogado de João Carreira pede a absolvição do primeiro crime.
Tenho tomado a medicação, sinto-me mais calmo, menos depressivo e melhor
João Carreira entrou cabisbaixo na sala de audiências e o primeiro olhar foi dirigido à família, a quem acenou emocionado. O arguido esteve a ouvir as alegações finais do seu processo sobre o qual deverá conhecer a decisão final a 19 de dezembro, com a leitura do acórdão. No final, respondeu às perguntas do presidente do coletivo dos juízes, Nuno Costa, sobre o seu estado emocional. "Tenho tomado a medicação, sinto-me mais calmo, menos depressivo e melhor", garantiu. Antes de abandonar a sala de audiências cumprimentou os pais e o avô, todos em lágrimas, e trocou várias palavras de afeto especialmente com a mãe, à qual esteve mais tempo abraçado. "Gosto de ti até ao universo", segredou-lhe.
Durante mais de meia hora, a procuradora Ana Pais fundamentou a decisão do Ministério Público que "considera adequado uma pena não inferior a três anos e meio a cumprir em estabelecimento prisional com acompanhamento psiquiátrico adequado" e que "o arguido deverá ser condenado por um crime de treino para terrorismo", uma vez que os seus alvos eram indiscriminados. Para o Ministério Público "não há dúvidas que o arguido tinha intenção de praticar estes factos".
O Ministério Público explicou que o jovem disse "que queria matar pelo menos três pessoas e que poderiam ser quaisquer pessoas que se encontrassem na faculdade" e que é isto que distingue um ato terrorista de uma tentativa de homicídio, pela qual não foi acusado. "Não tinha como alvo ninguém em particular, era-lhe indiferente, pretendia que fosse considerado um ataque em massa, obter cinco minutos de fama", argumentou a procuradora.
O João não é nem nunca foi uma pessoa violenta
O advogado de João Carreira, Jorge Pracana, considerou a pena pedida pelo Ministério Público "extraordinariamente desmedida e injusta" e pediu a absolvição do seu cliente pelo crime de terrorismo. Quanto ao crime por posse de arma proibida admitiu uma eventual condenação. Para Jorge Pracana tudo passou pelo "mundo de representação em que (João) vivia", agravado pelo seu estado de "grande confusão mental" e "depressão profunda".
"O João não é nem nunca foi uma pessoa violenta. Não reúne capacidades físicas para o emprego da violência, tinha muitas dificuldades na condução motora, em descascar a fruta e apertar botões e ver sangue", argumentou, acrescentando que "é difícil que um jovem com estas características pudesse levar a cabo tal ato terrorista".