O perito do Instituto de Medicina Legal que avaliou o jovem que queria levar a cabo um ato terrorista numa universidade em Lisboa não tem dúvidas, João Carreira tinha a consciência de distinguir o certo do errado, mesmo tendo em conta a perturbação do espectro do autismo e a depressão de que sofria.
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"O facto de ter adiado várias vezes a execução do ato que estava a preparar leva a crer que o examinando estava consciente do que estava a fazer", disse esta sexta-feira em tribunal Bruno Trancas, psiquiatra forense.
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João Carreira é acusado de dois crimes de terrorismo, um dos quais na forma tentada, e de um crime de detenção de arma proibida. O perito testemunhou em tribunal para esclarecer o coletivo de juízes sobre o que escreveu no relatório, na parte em que descrevia que havia uma ligeira incapacidade do arguido, mas sem colocar em causa a sanidade, ou imputabilidade, do mesmo para ser julgado pelos crimes.
"O que descrevi teve em conta o espectro de autismo diagnosticado ao examinando, que faz com que este não perceba quais as consequências emocionais que os seus atos tenham em terceiros, mas tal não afetava a sua capacidade de distinguir o certo e errado. Também sofria duma depressão ligeira, que nunca foi acompanhada de episódios psicóticos", disse Bruno Trancas.
Durante a sessão desta sexta feira, foi também ouvida uma colega de João, de nacionalidade indiana, a quem o arguido ameaçou de morte por mensagem e disse que ia no espaço de poucas semanas ser notícia por levar a cabo um ato terrorista na universidade. "Não levei nada a sério porque ele era meu amigo, pensava que era tudo uma brincadeira, ele chegou a referir que em Portugal as autoridades não ligavam a atos terroristas que aconteciam diariamente nos Estados Unidos da América, mas nunca levei a sério".
Os dois conheceram-se numa plataforma onde alunos se inscrevem para realizar trabalhos para diversas cadeiras na universidade. "Ele pediu-me amizade, disse que não tinha parceiro para um trabalho e perguntou-me se queria juntar-me com ele. Assim começamos a falar e ficámos amigos".
"O João está a ter na cadeia o acompanhamento que devia ter tido em liberdade"
O advogado do jovem julgado por terrorismo criticou à saída do Tribunal de Lisboa a falta de acompanhamento psicológico a João Carreira quando recebeu alta médica aos 17 anos, dois anos antes de planear um ataque terrorista em Lisboa. "O João está muito melhor agora que quando foi detido, está a ter na cadeia o acompanhamento que devia ter tido em liberdade", disse Jorge Pracana.
O advogado acrescentou que bastava uma consulta por mês e ser incompreensível não haver esse acompanhamento a quem é diagnosticado com perturbação do espetro de autismo. "É o sinal da pouca importância que a saúde mental tem em Portugal".
A estratégia da defesa de João Carreira vai no sentido de provar em tribunal que o jovem de 19 anos não ia levar a cabo o ataque. Para tal, defendeu o advogado, serviu o testemunho da mãe de João, que em tribunal disse que o jovem tinha pavor a sangue, bem como a audição do perito que levou a cabo a avaliação psicológica de João. "O facto de ter adiado várias vezes a execução do plano mostra que não o ia fazer", afirmou João Pracana.
O advogado contou ainda que o arguido está animado. "Tal deve-se ao acompanhamento que está a receber". João Carreira encontra-se atualmente em prisão preventiva no Estacionamento Prisional de Caxias.