Apresentadora Ana Lúcia Matos movimentava conta de empresa que lavou milhões de euros
Em dois anos, firma ficou com dois milhões de euros em IVA e IRC. Apresentadora recebeu 233 mil euros na conta pessoal.
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A conta bancária de uma empresa controlada por Max Cardoso e que Ana Lúcia Matos movimentava serviu de veículo para esconder milhões de euros das Finanças. Só em dois anos, a Numbers Station terá ficado com mais de 2,2 milhões de euros em IVA e IRC não pagos. Graças a um alerta bancário, a Justiça portuguesa conseguiu arrestar 3,2 milhões de euros às contas da firma. Serão apenas uma migalha das centenas de milhões de euros que grupo criminoso terá lucrado.
No papel, a Numbers Station era gerida por João Miranda, mas era fachada. Na prática, quem tomava as decisões e movimentava o património da empresa era Max Cardoso e, suspeita a investigação, a sua mulher, Ana Lúcia Matos.
A conta bancária da firma foi sempre controlada por Max através de "homebanking". E inúmeros destes acessos às contas foram efetuados a partir da rede de Internet da casa da ex-apresentadora de televisão, em Corroios, pelo que tudo indica que também Ana Lúcia estará envolvida nos factos. Os indícios são fortalecidos pelas elevadas quantias que passaram pelas suas contas pessoais.
Entre julho de 2019 e agosto de 2022, passaram pela conta bancária de Ana Lúcia em Portugal mais de 233 mil euros. A conta serviria para movimentar verbas oriundas da atividade ilícita praticada pelo seu companheiro e pai dos seus filhos que, refira-se, já foi condenado por crimes de fraude fiscal em França.
Outras contas da apresentadora, sediadas nos Emirados Árabes Unidos e na Lituânia, também terão servido para camuflar verbas ilícitas e comprar joias e outros artigos valiosos e até carros de luxo, como um Porsche que era usado pelo casal e que foi arrestado.
Alerta arrestou 3,6 milhões
Entre 2 e 15 de dezembro de 2019, duas das contas da Numbers Station no BPI e no Millennium BCP foram creditadas com mais de seis milhões de euros oriundos de outras empresa do grupo criminoso internacional. Apesar de camufladas em várias operações, as transferências fizeram soar os alarmes das instituições bancárias que emitiram alertas de branqueamento.
Após estas comunicações do BPI e Millennium, a Justiça averiguou que nem a empresa nem o seu gestor tinham declarado rendimentos para efeitos fiscais. Mais: não tinham qualquer ativo registado além do saldo bancário. Avançou-se então para o arresto dos 3,2 milhões de euros que ainda nelas restavam.
Processo
Despacho do juiz de instrução só na segunda-feira
Apenas cinco dos 14 detidos na Operação Admiral aceitaram prestar declarações ao juiz Pedro Miguel Vieira, no Tribunal de Instrução Criminal do Porto. Estava previsto que os interrogatórios terminassem ontem, mas tudo indica que os arguidos só ficarão a conhecer as medidas de coação na segunda-feira. A investigação foi desencadeada pela Diretoria do Norte da PJ. Os arguidos, detidos na passada terça--feira, são suspeitos de pertencer a uma organização internacional de fraude ao Fisco que terá movimentado mais de 2,2 mil milhões de euros através de 8845 empresas. As verbas resultavam da venda de artigos informáticos e telemóveis através de plataformas online. Além das detenções, foram apreendidos 2 milhões de euros em dinheiro, 50 automóveis de luxo, 47 propriedade e vários artigos de luxo.
Esquema
Dois polos lusos
Em Portugal, a organização teria duas células. Uma liderada por uma francesa de 78 anos, a filha e o companheiro, em Guimarães. A outra era controlada por Max Cardoso, marido da ex-apresentadora de televisão Ana Lúcia Matos.
Cascata de empresas
O grupo recrutava familiares e amigos para serem testas de ferro das centenas de empresa criadas para camuflar os movimentos financeiros que desaguavam na fraude fiscal. Também recorriam a conhecidos e familiares para depois movimentar e branquear as verbas, simulando créditos à habitação e a aquisição de património valioso.