Rede criminosa era liderada por família francesa e marido da apresentadora Ana Lúcia Matos
Septuagenária, filha e genro geriam célula em Guimarães. Max Cardoso condenado a pena de prisão efetiva em França.
Corpo do artigo
Uma família francesa e um luso-francês, marido da apresentadora Ana Lúcia Matos, chefiavam em Portugal um grupo criminoso dedicado à fraude fiscal que, a nível europeu, movimentou mais de 2,2 mil milhões de euros. Uma ação desencadeada pela Diretoria do Norte da PJ desmantelou o esquema e deteve 14 suspeitos que, hoje, continuam a ser ouvidos pelo juiz Pedro Miguel Vieira no Tribunal de Instrução Criminal do Porto.
O grupo criava cascatas de empresas para camuflar transações e ficar com o IVA de produtos informáticos e telemóveis vendidos através de plataformas online. Só em Portugal terão lesado o Estado em 300 milhões de euros.
A organização tinha duas células no nosso país. Uma controlada por Brigitte Lafontaine, de 78 anos, a filha Isabelle, 53 anos, e o companheiro Prathikounh Lavivong, 32 anos, todos de nacionalidade francesa e a residir em Guimarães. A outra era liderada por Max Emiliano de Oliveira Cardoso, que, por vezes também assinava Max William. Trata-se de um cidadão luso-francês de 44 anos que é casado com a apresentadora Ana Lúcia Matos. Max tem pendente em França um processo por crimes similares aos que agora lhe são imputados e no qual já foi condenado a pena de prisão efetiva.
Compra Artigos de luxo
Ana Lúcia Matos é suspeita do crime de branqueamento de capitais. A apresentadora de TV terá comprado artigos de luxo, incluindo um Porsche 911, através de contas bancárias por si tituladas nos Emirados Árabes Unidos e na Lituânia, mas que eram utilizadas para a atividade criminosa do marido.
Max também terá contado com a colaboração dos pais e da irmã, utilizando a sua identidade para introduzir nos circuitos lícitos, através de créditos à habitação e aquisição de património, as verbas obtidas com as fraudes fiscais. Esta era uma prática comum da organização. Com a ajuda de um gestor bancário (ler caixa), recorriam a terceiros para camuflar a atividade ilícita. Pagavam a pessoas para serem testas de ferro das empresas-fantasma e, depois de retirar delas o dinheiro subtraído ao Fisco, usavam contas de familiares para o movimentar.
continuam a ser ouvidos
Na terça-feira, com base nos indícios recolhidos pela Diretoria do Norte, a EPPO - Procuradoria Europeia - Delegação do Porto lançou a Operação Admiral que se estendeu a 17 países e desmantelou a organização.
Em causa está um esquema criminoso de fuga ao IVA a nível europeu que movimentou mais de 2,2 mil milhões de euros através de 8845 empresas. Só em Portugal foram apreendidos cerca de 50 automóveis de luxo, 47 propriedades, joias e artigos valiosos e mais de dois milhões de euros em dinheiro. Os detidos começaram ontem a ser ouvidos no Tribunal de Instrução do Porto. Apenas cinco, incluindo Ana Lúcia Matos, decidiram falar. Hoje deverá haver medidas de coação.
Movimentos
Gestor bancário ajudou
O grupo contou com a ajuda de um gestor de private banking para esconder os movimentos financeiros entre as empresas e os arguidos. O bancário, primeiro ao serviço do Deutsche Bank e depois do Abanca, abria e geria as inúmeras contas bancárias tituladas ou controladas pela rede, ajudando assim a ocultar os reais destinatários e a contornar os mecanismos bancários de deteção de movimentos suspeitos. Quando confrontado por uma superior, por causa de um eventual erro - duas contas de Max, uma com o nome Emiliano e outra como Willliam - ele, seguindo instruções de Max, mentiu e disse eram pessoas diferentes, primos com nomes similares, quando sabia que tal não era verdade.
Esquema
Queixas na Amazon
As empresas controladas pela rede não passavam fatura. Há registos de 164 queixas de clientes da Amazon que, após a compra, não receberam fatura e por isso não puderam descontar o IVA ou sequer devolver os produtos ou pedir um reembolso, acionando a garantia, caso quisessem.
Firmas extintas
Para justificar a saída de dinheiro das contas, as empresas da rede emitiam faturas falsas de pagamento de bens e serviços e indicavam como recetoras empresas já extintas ou usavam, abusivamente, dados de empresas com as quais não tinham qualquer relação.