Autoridades portuguesas e francesas negam conflito por Rui Pinto, que aceita colaborar com MP francês, mas ainda não foi abordado.
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O Ministério Público (MP) francês desmente a existência de atritos com as autoridades portuguesas por causa de Rui Pinto, fundador do Football Leaks, e garante que os inquéritos a seu cargo estão "em curso". Em Portugal, a Procuradoria-Geral da República também rejeita problemas e fala em "contacto permanente". Mas, até ao momento, o pirata/denunciante ainda não prestou ao MP francês a colaboração que diz estar disponível para prestar, mas que depende da intermediação do MP português.
Antes de ser detido na Hungria, Rui Pinto estava a colaborar com as autoridades judiciárias francesas, ajudando-as numa investigação que visava o financiamento ilegal de clubes detidos por magnatas árabes. Em 2019, Pinto facultara parte dos milhares de ficheiros na sua posse sobre aquele tema, mas manteve os restantes dados encriptados. Os franceses e Rui Pinto estariam então a negociar um acordo formal de colaboração, quando este foi detido em Budapeste, ao abrigo de um mandado de detenção europeu emitido a pedido de Portugal.
à Espera de "indicações"
Enquanto era ponderada a extradição de Rui Pinto para Portugal, vários discos informáticos de Rui Pinto foram selados e ficaram à guarda das autoridades húngaras. Temendo perder a informação neles contida e mesmo sabendo que os dados estavam encriptados, os franceses, com colaboração húngara, terão violado os selos e copiado o conteúdo dos discos. Isto foi feito à margem das autoridades portuguesas, que só mais tarde descobririam o sucedido.
Em março de 2019, Rui Pinto foi extraditado para Portugal. E ficou em prisão preventiva, até que, em agosto de 2020, foi libertado e entrou no programa de proteção de testemunhas, por se ter mostrado disponível para colaborar com as autoridades.Ao saber desta evolução, os franceses pediram autorização a Portugal para contactar Rui Pinto e retomar a sua colaboração. Mas, um ano depois, isso ainda não se traduziu em resultados práticos para o MP de França.
Recentemente, o jornal "Público" noticiou que as autoridades portuguesas entravavam a colaboração, em retaliação pela cópia dos discos rígidos de Rui Pinto. Questionada sobre o assunto, fonte oficial da procuradoria francesa assegurou que o inquérito preliminar "segue o seu curso", garantindo que "a cooperação judiciária com Portugal se desenrola com fluidez".
Também questionada pelo JN, a Procuradoria-Geral da República nacional respondeu que "a Decisão Europeia de Investigação em que é solicitada a colaboração de Rui Pinto tem tido a tramitação adequada e o Ministério Público português tem estado em contacto permanente com o congénere francês e com o Eurojust". "Os próximos procedimentos estão dependentes de indicações a fornecer pelo MP francês", acrescentou, sem querer esclarecer a que "próximos procedimentos" se referia e quais "indicações" espera de França.
Processos
Violação do fair-play
Segundo o Football Leaks, os donos árabes do Paris Saint-Germain e do Manchester City injetaram quatro mil milhões de euros nos dois clubes, em violação das regras do "fair play" financeiro da UEFA.
Evasão fiscal
Documentos do Football Leaks revelaram vários casos de evasão fiscal em Espanha. Cristiano Ronaldo teve mesmo de pagar 19 milhões de euros e Mourinho dois milhões.
Luanda Leaks
Rui Pinto foi a fonte de uma investigação jornalística à fortuna de Isabel dos Santos que pôs a nu desvios de fundos públicos de Angola.